O tráfico de fauna no México ameaça exterminar várias espécies muito antes de 2030. O governo acredita que, em 2008, o país continuará sendo um dos cinco de maior diversidade biológica do mundo. A metade das 22 variedades de papagaios verdes e multicoloridos correm risco de extinção, e da arara vermelha (Ara macao) restam apenas 300 casais, segundo documentos oficiais. Por outro lado, exemplares destas espécies são vendidos em mercados da capital e outras cidades quase à vista do público. “Nós conseguimos para você qualquer animal escasso”, diz a este jornalista Germán, que administra um box de quatro metros quadrados no mercado de Sonora, na Cidade do México.
O vendedor, que não dá seu sobrenome, mostra cachorros, gatos e canários, mas esconde atrás de um tapume uma águia à venda por US$ 200 e um aquário sujo com dezenas de pequenas rãs amareladas, cada uma delas oferecida a US$ 5. O que Germán esconde são animais silvestres em risco de extinção, cuja venda é punida com penas de um a nove anos de prisão. Mas ele vende de tudo, legal ou proibido: tarântulas (Lycosidae) a US$ 9, macaco-aranha (Ateles hybridus) a quase US$ 1.000, e uma iguana negra (Ctenosaura spp) a US$ 350. O tráfico ilegal de espécies é grave, mas “ninguém tem dados confiáveis” para precisar sua dimensão, diz ao Terramérica José Ramiro Rubio, subtitular da Promotoria Federal de Proteção do Meio Ambiente (Profepa).
Rubio lamenta que a Profepa tenha apenas 500 inspetores e que cada um, pelo salário de US$ 750 mensais, precise vigiar o comércio de espécies, o desmatamento florestal e o cumprimento de regulamentações ambientais. Para proteger animais silvestres, “nosso orçamento anual chega a um milhão de pesos”, cerca de US$ 935 mil, afirmou. “Não temos capacidade para atender problemas dessa magnitude, precisaríamos de um exército. O assunto é complexo pela dimensão do território mexicano (1,9 milhão de quilômetros quadrados) e pelas riquezas que possui”, acrescentou.
O México é um dos 15 do Grupo de Países Megadiversos, criado em 2002 pelas nações que em conjunto possuem 70% da diversidade de flora e fauna do planeta. Os demais integrantes são Brasil, Bolívia, China, Colômbia, Costa Rica, Equador, Filipinas, Índia, Indonésia, Quênia, Malásia, Peru, África do Sul e Venezuela. Embora faltem dados oficiais, as autoridades estimam que os ganhos do comércio de espécies exóticas do México estejam abaixo apenas da venda de drogas e do tráfico de armas. A cada ano, a Profepa apreende entre 15 mil e 23 mil animais capturados ilegalmente, ou que estavam a ponto de serem levados do país ou vendidos aqui mesmo, e prende, por esse crime, cerca de 50 pessoas.
O vasto território mexicano, banhado pelos oceanos Atlântico e Pacifico e com múltiplas rotas de saída, torna difícil deter com inspetores o comércio local e internacional de espécies, ressaltou Rubio. Porém, a Profepa identifica cerca de 60 locais na capital e nas cidades de Guajalajra e Puebla onde o tráfico é importante. As autoridades identificam as rotas, que se dirigem aos Estados Unidos e à Europa, no aeroporto da capital e nos estados situados no Golfo do México e na fronteira norte do país.
No sul e leste, onde predominam as selvas e baixadas, o comércio e a caça ilegal afetam principalmente jaguares (Panthera onca), aves canoras e ornamentais, javalis (Sus scrofa), macaco-aranha e macaco-uivador (Alouatta palliata), crocodilos (Crocodylidae) e outros répteis, e também orquídeas. No norte e centro, as espécies afetadas são os veados (Cervus elaphus), carneiro silvestre (Ovis canadensis) e linces (Lynx), além de pumas, araras, aves aquáticas, almas-de-gato, pombas, palmas e cactos.
Os papagaios e outras aves semelhantes estão em risco de extinção devido ao tráfico, afirmou Maria Elena Sánchez, presidente da Teyeliz, organização não-governamental que combate este crime. Para cada animal que chega às mãos do comprador estima-se que morrem quatro durante a captura e o transporte, além da destruição de ninhos e ovos, disse Sánchez ao Terramérica. Algo semelhante acontece com muitos mamíferos e répteis, acrescentou. Uma extensa investigação, publicada em 2007 pela Teyeliz e a Defenders of Wildlife (Defensores da Natureza) no México, alerta que, em dez ou 15 anos, várias espécies terão desaparecido definitivamente neste país.
Para o vendedor do mercado de Sonora, não é difícil evitar os inspetores da Profepa. “Eles não vêm muito”, diz Germán. As barracas que vendem animais ocupam cerca de 400 metros quadrados. Dezenas de papagaios, louros, pombas, gaivotas e pavões estão apinhados em pequenas jaulas. O mesmo acontece com cães e gatos, iguanas e lagartixas. Mas a maioria dos vendedores promete conseguir qualquer animal, inclusive em poucos minutos, com pagamento adiantado. A presidente da Teyeliz pediu mais pessoal e orçamento às autoridades. Contudo, “mais do que um exército, o que é preciso é educar o consumidor para que deixe de comprar animais em perigo”, afirmou. O governo nunca fez uma campanha educativa, mas não devemos esperar, e, com os poucos recursos que conseguem, a Teyeliz e outras organizações pretendem realizar uma este ano, acrescentou.
(Por Diego Cevallos*, Terramérica, Envolverde, 08/04/2008)
* O autor é correspondente da IPS.
Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.