Quem vê os olhos puxados e o cabelo negro de Deivid, 5 anos, já imagina que por trás da estampa há uma origem indígena. Acompanhado dá avó, Erondina Nascimento, 82 anos, e da irmã, Manuela, 1, ele transita por diversos bairros de Caxias do Sul à procura de compradores para seus arcos e cestas. Os três índios, de origem caingangue, circulam pela cidade desde março e moram na Aldeia Bananeira, em Nonoai.
Com uma autorização do cacique em mãos para ficarem fora da tribo por 30 dias, eles percorrem o Estado, mas dizem gostar de Caxias.
- Aqui as pessoas são carinhosas com a gente. E conseguimos vender muitos arcos - conta Erondina.
O povo nos ajuda
A avó só fala em caingangue - idioma próprio dos índios - com os netos. Os produtos, vendidos por eles a R$ 5, são feitos artesanalmente na aldeia.
Quando vêm a Caxias, Erondina, Deivid e Manuela dormem com outros índios em um barracão próximo ao Estádio Municipal, no bairro Cinqüentenário. Eles acordam cedo, carregam as cestas e os arcos e vão em direção ao Centro. À tarde, instalam-se na Praça Dante, onde tentam, por meio de olhares e poucas palavras, vender cada produto.
Deivid mostra um bilhetinho digitado e plastificado que entrega às pessoas. Nele, há uma mensagem que pede a ajuda de R$ 1. Questionado sobre quem lhe deu o bilhete, Deivid se cala e corre para os braços da avó, que também silencia.
- Fomos bem recebidos aqui, e o povo nos ajuda. Vamos continuar buscando uma vida melhor, para sempre - resume a índia.
A FAS
"Não podemos proibi-los de virem"
Segunda a diretora de Promoção e Cidadania da Fundação de Assistência Social (FAS), Marlês Andreazza, índios de diversas regiões do Estado vêm a Caxias do Sul em determinadas épocas do ano. Ela garante que a relação entre a FAS e os indígenas é próxima, e que programas de assistência oferecem orientações a eles e, quando necessário, alimentação e passagem de ônibus.
- Os índios estão em Caxias para tentar uma vida melhor. Não podemos proibi-los de virem, nem de venderem seus produtos. Ajudamos como podemos - enfatiza.
Indiozinhos não podem perder aula
A diretora acrescenta que educadoras sociais, participantes do serviço emergencial de rua da FAS, conversam e orientam os indígenas sobre seus alojamentos na cidade e sobre a situação escolar das crianças que os acompanham.
- Muitas crianças que chegam até a cidade com seus parentes retornam para a aldeia para não perderem aula. Essa orientação é essencial. Além disso, quando notamos a presença de crianças pequenas junto, se necessário, fornecemos os alimentos essenciais a uma boa alimentação - garante Marlês.
(Por Tatiana Cavagnolli, Pioneiro, 08/04/2008)