As mudanças climáticas vão piorar a saúde da humanidade, alertou a ONU, e um dos efeitos será o aumento da incidência de doenças como a dengue e a malária. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), em 2080 o número de casos de dengue em todo o mundo pode chegar a 2 bilhões - hoje é de 50 milhões.
O impacto do aquecimento global na saúde foi o tema escolhido pela agência da ONU para marcar ontem o Dia Mundial da Saúde. A OMS, que neste ano completa 60 anos, estima que o aumento de um grau centígrado na temperatura do planeta representa mais 20 mil mortes todo ano.
A diretora-geral da OMS, Margaret Chan, disse que entre as conseqüências mais graves das mudanças climáticas está a proliferação de doenças contagiosas. No caso da dengue, a expansão é especialmente preocupante. "Os efeitos da mudança climática já podem ser percebidos. É necessária uma ação urgente para minimizar seus efeitos. Não é especulação, mas uma realidade", disse Chan.
No comunicado da organização, a dengue é descrita como um "desafio crescente", particularmente nas cidades tropicais dos países em desenvolvimento. "O número de casos aumentou de forma dramática nos últimos 40 anos, enquanto a urbanização sem planejamento com água parada criaram locais para a reprodução de mosquitos", diz documento.
Chan lembrou outros riscos à saúde advindos do aquecimento global, como a escassez de alimentos, que leva à desnutrição e mata 3,5 milhões de pessoas por ano. Doenças relacionadas à diarréia, em grande parte causadas por água contaminada, estão por trás de mais 1,8 milhão de mortes. E ainda há a malária, que mata 1 milhão por ano. "A situação tende a ficar pior ainda com as mudanças climáticas", disse Chan.
O objetivo da organização é mostrar que as variações do clima já não são apenas um problema ambiental e do desenvolvimento, mas têm impacto direto na saúde e no bem-estar das pessoas.
A diretora-geral da OMS citou recentes catástrofes naturais no planeta, como a onda de calor na Europa que matou 70 mil pessoas, em 2003, e o furacão Katrina, nos EUA, em 2005, como resultados dos problemas causados pelo clima.
Mas é nos países pobres que a saúde é mais castigada, afirma a organização. O cálculo é de que neles a mortalidade per capita por doenças contagiosas seja até 300 vezes mais alta que no mundo desenvolvido. O risco é particularmente alto para as populações pobres que não têm um sistema de saúde pública.
(Por Marcelo Ninio, Folha de São Paulo, 08/04/2008)