A professora de sociologia e antropologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Andréa Zhouri, disse no sábado (5) que "não se pode falar em desenvolvimento sustentado apenas do ponto de vista do crescimento econômico, sem a respectiva preocupação com a proteção ambiental e com a igualdade social". Segundo ela, o que se pratica hoje é o conceito de "desenvolvimento a qualquer custo", por imposição da força econômica.
Andréa Zhouri coordenou nesta semana, em Belo Horizonte, o 1º Seminário Nacional sobre Desenvolvimento e Conflitos Ambientais. Segundo ela, durante o encontro, pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento humano debateram, "de forma crítica e inovadora", o conceito de desenvolvimento sustentável.
Em entrevista à Agência Brasil, ela afirmou que a exploração econômica, como se dá atualmente, "não tem favorecido as populações mais fragilizadas, que não têm sequer o direito de decidir seus próprios destinos". Citou, principalmente, as comunidades rurais, indígenas, ribeirinhas e quilombolas, que são as mais afetadas nos conflitos ambientais e "pagam custo social muito alto".
Como exemplos de desrespeito ao meio ambiente, a professora enumerou a criação de camarão em cativeiro (carcinocultura), que prejudica seriamente os manguezais do Nordeste e tira o sustento das comunidades que vivem da pesca de caranguejo; a política agroenergética do governo, que estimula monoculturas de cana-de-açúcar e eucalipto; bem como a construção de grandes represas para produção de energia elétrica, que obriga o deslocamento de comunidades inteiras do seu habitat natural.
Andréa Zhouri lembrou, entre os debates feitos atualmente nesse sentido, a transposição das águas do Rio São Francisco para perenizar rios do Nordeste. Para ela, a transposição vai atender projetos do agronegócio, e "as populações mais pobres não serão beneficiadas".
Durante o seminário na capital mineira, foram discutidas ainda questões como poluição industrial e uso de agrotóxicos que, na opinião da professora, têm se constituído em graves problemas de saúde para as populações. Outro tema foi o das usinas de produção de álcool no interior de São Paulo, que provocam nuvens de fuligem, decorrentes da queima de cana-de-açúcar, e dão exemplo de desenvolvimento econômico predatório.
Andréa Zhouri disse que o próximo seminário nacional para dar sequência a essas discussões será realizado em Fortaleza, em 2010.
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Agência Brasil, 07/04/2008)