As reuniões da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre clima esta semana em Bangcoc resultaram em uma agenda de trabalho ambiciosa, que garante a discussão mais aprofundada sobre os principais assuntos relacionados a um novo acordo em 2009. Esta é a opinião do WWF-Brasil sobre a conclusão do primeiro encontro da ONU sobre mudanças climáticas após a 13ª. Conferência das Partes em Bali, em dezembro passado. O acordo de 2009 é necessário, pois o primeiro período do Protocolo de Quioto termina em 2012 e os países necessitam de um tempo para ratificar o novo compromisso até que ele entre em vigor, devido à complexidade do assunto.
"Os países em desenvolvimento colaboraram bastante para a formulação da agenda, mas ainda é preciso que apresentem propostas concretas para serem discutidas por todos", afirma Karen Suassuna, analista em mudanças climáticas do WWF-Brasil, que acompanhou as discussões na Tailândia.
O Brasil, por exemplo, já apresentou duas propostas em anos anteriores: a da compensação por reduções de emissões pelo desmatamento, que sugere que os países sejam compensados financeiramente pela diminuição no desmatamento como forma de incentivo, e a da responsabilidade histórica, que afirma que cada país deve se comprometer com as reduções de suas emissões de acordo com seu histórico de poluição.
Dificuldades nas negociações
As negociações não são fáceis e muitos países têm apresentado resistência. Desta vez, o Japão foi quem mais colocou obstáculos para que as negociações avançassem. O país manteve sua posição conservadora ao exigir que as nações em desenvolvimento também assumam metas de redução de emissões. Em Bali, o acordado foi que os países em desenvolvimento iriam agir para reduzir suas emissões, porém sem metas obrigatórias.
"O governo japonês terá de construir uma relação de mais confiança com os grandes países em desenvolvimento se quiser liderar o G8 (Grupo dos sete países mais desenvolvidos + Rússia) para um acordo razoavelmente bom na próxima reunião do grupo em Hokkaido", afirma Kathrin Gutmann, coordenadora de políticas públicas da Rede WWF. "A melhor maneira de fazer isso é o Japão adotar uma posição agressiva e defender uma redução drástica de emissões pelos países industrializados de 25% a 40% até 2020."
A atenção do mundo se voltou para as mudanças climáticas de forma mais intensa depois da divulgação de diversos relatórios sobre o tema no ano passado, como o Relatório Stern, sobre os impactos na economia mundial, e o do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). "Os impactos apontados por estes documentos explicitam a vulnerabilidade econômica, social e ambiental a que estamos sujeitos. É necessário que haja liderança política arrojada o suficiente para construir uma agenda global com medidas concretas e enfrentar a gravidade e urgência do assunto", afirma Karen Suassuna. "Caso contrário, cientistas e economistas têm apontado prejuízos enormes para a humanidade", completa.
Este ano, haverá ainda mais três reuniões da ONU para tratar do tema: na Alemanha, em Gana, e na Polônia (COP 14), em dezembro. Na reunião de Gana, marcada para agosto, será tratado um dos assuntos mais relevantes para o Brasil, Reduções das Emissões do Desmatamento e Degradação (REDD).
WWF-Brasil
O WWF-Brasil é uma organização não governamental brasileira dedicada à conservação da natureza com os objetivos de harmonizar a atividade humana com a conservação da biodiversidade e promover o uso racional dos recursos naturais em benefício dos cidadãos de hoje e das futuras gerações. O WWF-Brasil, criado em 1996 e sediado em Brasília, desenvolve projetos em todo o país e integra a Rede WWF, a maior rede independente de conservação da natureza, com atuação em mais de 100 países e o apoio de cerca de 5 milhões de pessoas, incluindo associados e voluntários.
(Por Mariana Ramos, assessora de Comunicação do WWF-Brasil. Texto recebido por E-mail, 04/04/2008)