A escassez de água problemática em muitos países e, no Brasil, especialmente na região do semi-árido, começa a ganhar resolução prática a partir de um protótipo de residência ecologicamente avançada desenvolvido na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), na Paraíba.
Uma equipe coordenada pelo professor José Geraldo Baracuhy, do Departamento de Engenharia Agrícola da instituição, ergueu em um terreno inóspito, na comunidade de Latadinha, zona rural do município de São José do Sabugi (PB), uma casa capaz de proporcionar a seus moradores condições de viver em grandes períodos sem chuva e de altas temperaturas, com bem-estar e sem alterar radicalmente seu dia-a-dia. Tudo isso lançando mão de métodos ambientalmente corretos.
“Se a água no semi-árido é difícil, ela tem que ser utilizada da forma mais inteligente possível”, disse a AmbienteBrasil o professor Baracuhy, visivelmente entusiasmado com o resultado final do projeto.
O telhado da residência, por exemplo, foi projetado de tal modo que encaminha, para uma cisterna, toda a água captada durante o período chuvoso. O processo de reuso não precisa de bombas, já que previsto para aproveitar a lei da gravidade.
Com a mesma lógica, a água utilizada na lavanderia, mesmo que venha de fontes externas, passa por um filtro bastante simples, fica armazenada e, posteriormente, abastece as descargas sanitárias.
Um outro coletor aproveita a água da cozinha e das pias dos banheiros, guarnecendo um ponto para irrigação de pequenas plantações no terreno. Já a que sai do vaso sanitário, direcionada à fossa séptica, cria umidade na área de instalação desta, onde se recomenda o plantio de uma árvore frutífera. “Você tem um ambiente de sombra e um produto saudável, sem risco de contaminação”, diz o professor Baracuhy.
Ele assume que lançou mão de várias tecnologias já disponíveis, algumas delas aprimoradas na Universidade Federal de Campina Grande, como a do tijolo de solo-cimento, benéfica ao meio ambiente na medida em que dispensa a queima, essencial ao produto cerâmico, processo que, em geral, implica no uso de lenha. “Você faz o tijolo na própria construção, evitando o transporte desse material e, por conseqüência, a emissão de C02”.
O formato do telhado, propício para a captação de água da chuva, da mesma forma, foi fruto de pesquisa para a dissertação de Mestrado do professor Abdon Miranda, também da UFCG.
Essa junção de conhecimentos agora testados é, para o professor Baracuhy, capaz de suprir demandas relevantes, a exemplo das necessidades nascidas no espectro da revitalização do rio São Francisco. Seu propósito é disseminar essas técnicas, de forma acessível às comunidades ribeirinhas, por intermédio de uma cartilha ilustrada.
“São raras as políticas públicas de fomento a casas populares no meio rural”, diz ele, que já apresentou o projeto ao Governo da Paraíba, por intermédio do diretor Técnico da Companhia Estadual de Habitação Popular, Edmilson Montes Ferreira.
A cartilha para disseminar as técnicas está hoje também sob análise do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), que apoiou financeiramente o protótipo da casa já construída.
Segundo o professor Baracuhy, essa residência ecologicamente correta demanda cerca de dois meses para se concretizar, a um custo cerca de 40% inferior ao de uma construção convencional.
(Por Mônica Pinto
/ AmbienteBrasil, 07/04/2008)