Tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei que determina aos editores de livro utilizarem papel reciclado em pelo menos 30% de suas publicações. O projeto, de autoria do deputado Eliene Lima (PP-MT), vem enfrentando resistência das indústrias e das editoras de livro.
Em audiência pública realizada na última quinta-feira na Câmara em Brasília, o coordenador do grupo técnico de Meio Ambiente da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), Robinson Cannaval, afirmou que o país não tem produção de papel suficiente para atender a esse tipo de legislação. De acordo com ele, seria preciso produzir mais 200 mil toneladas de papel para atender à cota proposta pelo deputado.
No entanto, Robinson vê a legislação como incentivo para a produção de papel no país, o que beneficiaria o setor e o meio ambiente. "Essa matéria prima, além de ser renovável, que é uma característica importante da indústria do papel, a de se convir que quando ela cresce, através da fotossíntese, esta árvore está seqüestrando gás carbônico, que é o principal gás do efeito estufa. Quando nós consumimos papel branco, nós temos uma floresta atrelada à produção da matéria-prima, nós estamos seqüestrando cerca de seis toneladas de CO2 para cada tonelada de papel branco consumido", diz.
A medida também não é considerada tão positiva entre os ambientalistas. O engenheiro agrônomo Sebastião Pinheiro lembra que atualmente, a maior parte do papel reciclado é produzido pelas grandes empresas, como a Aracruz Celulose, que exportam grande parte do que produzem no Brasil. O ambientalista também destaca que o atual sistema de produção de papel é altamente tóxico e que incentivar a expansão dessa estrutura pode provocar ainda mais danos ambientais. Ele também rebate o argumento de que o plantio de pínus e eucalipto e a produção de papel no Brasil é sustentável.
“A Europa está fechando todas as fábricas de celulose em 2007 porque não conseguem competir com as fábricas instaladas no hemisfério Sul. O sol aqui é mais forte e, assim, eles podem ganhar mais dinheiro. É porque se vende certificação: há uma empresa que vende certificação de eucalipto, que confirma que seu eucaliptal não tem trabalho escravo, tem banheiro pra homem e pra mulher, que seu trabalhador tem bota no pé. E essa certificação significa 2,5% do valor de cada tonelada de celulose”, avalia.
De acordo com estimativas apresentadas no projeto de lei pelo deputado Lima, cada tonelada de papel reciclado poupa 60 árvores e também evita o desperdício de petróleo e água. Ele ainda cita que 40% do lixo urbano brasileiro é constituído de papel.
(Por Raquel Casiraghi, Agência Chasque, 04/04/2008)