As restrições da União Européia à carne produzida a partir de animais alimentados com milho transgênico determinará uma readequação no setor avícola. Indústrias interessadas em manter o mercado europeu após a introdução do plantio comercial das variedades da Monsanto e da Bayer no Brasil terão de garantir aos importadores processos que permitam rastrear o grão por meio de testes e auditorias, comprovando que o produto não é geneticamente modificado. Em 2007, os países do bloco foram o destino de 15% das 702 mil toneladas embarcadas pelo Rio Grande do Sul.
Como aconteceu com a soja modificada, a tendência é de que haja uma segmentação de mercado, com bonificação no pagamento aos produtores que optarem por continuar fornecendo o grão convencional. Apesar de não temer barreiras comerciais, o setor, que consome 3 milhões de toneladas de milho ao ano, está ciente de que todo cuidado será pouco para preservar clientes externos.
- Estamos sempre em alerta. Tudo é possível, por isso será importante comprovar a origem dos grãos na propriedade - afirma Eduardo Santos, presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav).
Líder no consumo de milho do Estado (juntamente com a indústria avícola), as processadoras de carne suína, por enquanto, não estão preocupadas. Atendem basicamente a mercados marginais, como Rússia e Hong Kong, nada restritivos à transgenia, explica o diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Carnes de Produtos Suínos, Rogério Kerber. Além disso, o dirigente avalia que bloqueios comerciais seriam um contra-senso, já que nos maiores fornecedores mundiais de milho predomina a produção transgênica.
Além de criar um nicho, o novo cenário pode reprimir movimentos especulatórios sobre o preço interno do cereal. No entendimento do setor, as liberações das variedades transgênicas abrem precedente para a importação de milho modificado de outros países, garantindo o abastecimento e freando elevações de cotação.
Apesar de prosseguir a obrigatoriedade de autorização da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para importação, o presidente da Associação Brasileira de Milho (Abramilho), Odacir Klein, concorda: não faz mais sentido negar as licenças.
Klein avalia que o processo não irá afetar o preço ao produtor nacional na medida em que o Brasil seguir exportando, especialmente para os países asiáticos, que não apresentam restrições a transgênicos. Com expectativa de produção de 55 milhões de toneladas na safra 2007/2008, a estimativa é de que as exportações brasileiras cheguem a 10 milhões de toneladas. Na opinião de Klein, com consumo previsto de 44 milhões de toneladas, haverá equilíbrio suficiente para manter cotações.
- Não podemos entrar num processo de canibalismo, abrir uma guerra no mercado interno por preço, não é uma atitude inteligente - alerta Klein.
(Zero Hora, 04/04/2008)