"Se o bispo vê dezenas de carretas transportando madeira roubada na Amazônia, por que a polícia e o Ibama não vêem?", perguntou d. Moacyr Grechi, arcebispo de Porto Velho (RO), durante a 46ª Assembléia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ao cobrar mais ação do governo na repressão à devastação da Amazônia, onde vive há 37 anos. Antes de ser transferido para Rondônia, ele foi bispo no Acre.
Para d. Moacyr, todos têm uma parcela de culpa pela derrubada das matas, problema que poderia ser resolvido se agentes da Polícia Federal (PF) e fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) tivessem mais recursos para enfrentar os madeireiros desonestos que não respeitam a lei.
"Não vou generalizar, mas posso afirmar que tanto o Judiciário como o Legislativo são culpados pela devastação, porque muitos de seus membros são proprietários de terra", acusou o arcebispo de Porto Velho. Ele elogiou a atuação da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, mas criticou a demora na legalização de áreas desapropriadas pelo Executivo.
"Como o governo não adota logo medidas legais de proteção às terras a serem preservadas, disse o arcebispo, "o Judiciário acaba protegendo os grileiros que se apoderam de reservas indígenas". Contrário à exploração indiscriminada da Amazônia para a criação de gado e plantação de soja, d. Moacyr afirma que seria possível desenvolver projetos agropecuários de desenvolvimento sustentável.
Ameaças O bispo da Prelazia do Xingu (PA), d. Erwin Kräutler, denunciou ameaças de morte que ele, padres e agentes de pastoral vêm sofrendo na região, por defenderam índios e agricultores contra madeireiros que exploram ilegalmente as matas da Amazônia.
"Recebemos ameaças pelo telefone, por cartas anônimas e até em entrevistas e artigos de jornais", afirmou d. Erwin. "Como sou bispo, agentes da Polícia Federal me dão proteção especial, mas há outras pessoas que também correm risco de vida e não têm proteção", disse.
D. Erwin garantiu que, embora enfrente pessoas poderosas, "como os madeireiros e os construtores de hidrelétricas, que têm muito dinheiro", continuará lutando em defesa do povo. "A Amazônia tem 23 milhões de habitantes e nações indígenas que falam 160 línguas; não é uma região abandonada", argumentou. "Defendo um desenvolvimento sustentado, mas não na visão economicista do PAC (Programa de Aceleração de Desenvolvimento) do governo", completou.
(Tribuna da Imprensa - RJ
, FGV, 04/04/2008)