Era o projeto que faltava para a consolidação de Rio Grande como novo pólo naval brasileiro. Depois do início da montagem da P-53 e da escolha do Dique Seco para a fabricação da base da P-55, a Petrobras confirmou ontem o plano de implantar em Rio Grande, dentro do Dique Seco, uma fábrica pioneira no mundo de produção em série de cascos para plataformas.
O anúncio foi feito na manhã de ontem, no canteiro de obras do Dique Seco, durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que também esteve nas obras da P-53, que está na fase final de montagem, no Porto Novo. Segundo o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, a estatal deve publicar até o final do ano uma licitação prevendo a contratação de uma empresa para a implantação de uma linha de produção de cascos para plataformas do tipo FPSO (que utilizam bases semelhantes a cascos de navios, onde são instalados módulos de extração e processamento de petróleo).
Segundo o presidente da estatal, podem ser investidos cerca de US$ 3 bilhões para produção em série de cascos padronizados ao longo de dez anos, o que deve gerar 3 mil empregos diretos. Aos cascos seriam aplicados módulos que planejados, projetados e construídos conforme as necessidades da companhia. Com isso, a Petrobras espera obter economia com a produção em larga escala e ganhar agilidade. "É um projeto inédito internacionalmente", assinalou Gabrielli.
Atualmente, a fabricação de plataformas FPSO depende da aquisição de navios antigos, como ocorreu com a P-53, montada sobre o casco de um ex-navio de Singapura. A produção provavelmente deve ser iniciada no primeiro semestre do ano que vem, quando serão concluídas as obras do Dique Seco, onde serão construídos os cascos. A estrutura recebeu R$ 454 milhões em investimentos, sendo 80% da Petrobras e 20% da WTorre. O primeiro casco deve ficar pronto em 36 meses. A partir daí, uma nova unidade deve deixar o Dique a cada oito meses.
A construção de cada casco absorve cerca de US$ 400 milhões, o que representa um terço do custo de uma plataforma. Com isso, sobe de US$ 5 bilhões para US$ 8 bilhões a possibilidade de investimentos da Petrobras no pólo naval gaúcho até 2019.
De acordo com Alexandre Garcia, gerente de Construção Naval da Petrobras, há um entendimento de que ao longo dos dez anos de operação, a fábrica de cascos crie um know-how de produção e redução de custos que a torne competitiva em âmbito global.
A expectativa é de que, a partir de 2020, o novo pólo naval, já consolidado, tenha competência para disputar licitações da Petrobras e de outras petroleiras internacionais, sem necessidade de presença da companhia brasileira nos projetos.
O empreendimento deve ocupar pelo menos metade da capacidade operacional do Dique Seco, também poderá receber obras de construção de plataformas semi-submersíveis e reformas de embarcações ou perfuradores como a P-17, que deverá ser remodelada no local entre 2009 e 2010. A previsão é de que sejam gerados até 9 mil empregos diretos no total das operações do Dique.
A WTorre ainda planeja a construção de uma extensão do Dique Seco, que deve ser dedicada a reparos e reformas de embarcações de apoio às operações da Petrobras. A estimativa é de que, com a ampliação, os investimentos totais na estrutura possam chegar a US$ 1 bilhão.
O presidente Lula destacou que a reveleção do novo projeto no Sul do Estado reflete o ciclo de investimentos vivido pela economia brasileira. "Não há região no País que não tenha projetos como o de Rio Grande", argumentou. (Por João Guedes, de Rio Grande)
Dilma anuncia duplicação da BR-392
A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, anunciou ontem que o governo federal irá iniciar a obra de duplicação da BR-392, entre Pelotas e Rio Grande, para desafogar o acesso ao porto do Rio Grande. Dilma disse também que, paralelamente ao início da obra, o governo irá revisar o contrato de concessão da rodovia, "porque o pedágio aqui em relação ao que se cobra no resto do Brasil é um dos mais altos do País". A ministra sustenta que é obrigação do governo federal levar em consideração não só os direitos do concessionário, mas também avaliar se esses direitos são compatíveis com as necessidades da população.
Conforme a ministra, atualmente o risco-Brasil passa a ser o custo da infra-estrutura que será embutido na competitividade do País. "Portanto, ter pedágios compatíveis não é uma questão de teimosia é, sobretudo, o compromisso do governo em transformar a infra-estrutura em um mecanismo de expansão", acrescentou.
Em discurso na Fundação Universidade Federal do Rio Grande (Furg), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também questionou os valores dos pedágios cobrados na rodovia. "É um contrato perverso", disse. Ele prometeu finalizar em 40 dias as discussões para a ampliação da BR. "Mas não vamos construir uma estrada com o dinheiro do povo brasileiro para dar para o empresário ganhar pedágio", completou.
Mesmo dizendo que não pretende fazer melhorias na estrada "a ferro e fogo", Lula chegou a sinalizar a possibilidade de construir uma estrada paralela à rodovia, caso não ocorra um acordo com a concessionária. "Aí vai ficar uma coisa inusitada, de um lado uma estrada privatizada cobrando pedágio e do outro uma estrada de graça", comentou.
Presidente lança centro de pesquisa na Furg
Além das visitas nas obras do Dique Seco e da P-53, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve ontem na Fundação Universidade Federal do Rio Grande (Furg) para inauguração do Centro Integrado de Desenvolvimento do Ecossistema Costeiro (Cidec-Sul). Na ocasião, foi assinado acordo de cooperação entre a Secretaria de Aqüicultura e Pescada Presidência da República (Seap) e a Furg para ampliar o projeto Amazônia Azul, que oferece a estudantes de oceanografia a possibilidade de participar de cruzeiros científicos. Lula também participou da assinatura de atos do programa federal Territórios da Cidadania, referente a ações do projeto na região.
Lula rejeita vínculo do PAC com eleição
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem durante o lançamento de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em Porto Alegre, que a ação não tem objetivo político. Segundo ele, o programa destina-se à recuperação de investimentos em infra-estrutura básica que permitam ao Brasil crescer de forma homogênea. "Se a gente transformar o PAC numa manifestação político-partidária, não-institucional, vou ter muita dificuldade para completar as viagens que tenho que fazer", argumentou.
Na Capital, a manifestação do presidente foi motivada pelas repetidas vaias dirigidas ao prefeito de Porto Alegre, José Fogaça (PMDB), e à governadora do Estado, Yeda Crusius (PSDB). "Não estou fazendo obras por causa dos partidos, o meu compromisso é com o povo deste País".
Horas antes, ainda na cidade de Rio Grande, declaração semelhante teve como alvo as críticas da oposição, que aponta para o uso político do projeto em ano eleitoral. "Tem gente que acha que isso é política, que estou tirando proveito. Mas não há eleição para presidente neste ano. Portanto, o que há são muitos investimentos do governo", disse, ao acrescentar que "tem muita gente que não quer que o Brasil vá para frente".
Ladeado pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, o presidente garantiu que não pretende dar ouvidos à oposição, e que vai seguir viajando pelo Brasil para anunciar e também fiscalizar obras. "Não tem campanha, pois ela é só em 2010. Além do mais, eu não posso ser candidato, pois a Constituição permite apenas dois mandatos".
Lula também brincou, dizendo que não poderia fazer campanha em Porto Alegre, já que boa parte dos pré-candidatos à prefeitura da Capital são de partidos que integram a base de apoio do governo federal. "Estou aqui pisando em ovos, cuidando para não quebrar nenhum". Ele garantiu ainda que só deverá participar da campanha em 2008 nas cidades onde houver apenas um candidato da base. "Onde tiver dois não posso ir, pois a minha relação com os partidos não é nas cidades, mas lá em Brasília".
Ao falar sobre o PAC, disse que o governo assumiu a tarefa de "consertar as irresponsabilidades dos últimos 50 anos" que geraram um abismo entre crescimento pupulacional e infra-estrutura urbana. "Estamos gastando bilhões para consertar isso, mas não é uma tarefa fácil", admitiu.
Lula também voltou a dizer que, durante muito tempo a miséria foi usada para a manutenção de uma elite no poder. "Queremos construir cidades onde as pessoas possam morar, estudar e ter acesso à cultura. Isso não vai ser construído em 10 anos. Vamos precisar de algumas décadas para transformar o Brasil no País dos sonhos".
O presidente também falou da dívida externa ao assinalar que o Brasil deixou de ser devedor para se tornar credor internacional. Apontou que essa nova fase permite aos brasileiros "andar de cabeça erguida", e citou como exemplo o sucesso nas tratativas de empréstimo com o Bird pelo governo gaúcho "Antes éramos tratados como um País pequeno, que não era dono do seu nariz. Hoje as pessoas reconhecem que o Brasil é sério e que merece respeito", afirmou.
Durante os 30 minutos em que discursou na Praça Oliveira Rolim, no bairro Sarandi, na Zona Norte de Porto Alegre, o presidente lembrou as baixas taxas de crescimento econômico registradas pelo Rio Grande do Sul. Reconheceu a vulnerabilidade do setor agrícola e a dificuldade enfrentada pelo setor coureiro-calçadista diante da competição com os produtos chineses, e alfinetou o modelo de desenvolvimento adotado na Metade Sul do Estado, através do florestamento com plantações de pínus, acácia e eucalipto, para abastecer as empresas com projetos de fábricas de celulose.
Lula também falou da greve dos correios. Relatou que soube na quarta-feira da paralisação e garantiu que o acordo firmado com a categoria será cumprido. "Não podemos aceitar que um compromisso firmado no gabinete da presidência não seja cumprido". No final do evento, encontrou-se com representantes dos Correios e com o senador Paulo Paim (PT), para encaminhar uma negociação.
Também acompanham a comitiva o senador Sérgio Zambiasi (PTB), prefeitos, deputados estaduais e federais, vereadores e os ministros da Justiça, Tarso Genro, da Defesa, Nelson Jobim, das Cidades, Márcio Fontes, e da Comunicação Social, Franklin Martins. (Por Gisele Ortolan)
Lula dá início ao PAC no Rio Grande do Sul
Depois de passar por Rio Grande, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve nesta quinta-feira à tarde em Porto Alegre, onde assinou, junto com o ministro das Cidades, Marcio Fortes, os contratos que dão início a obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) relativas a saneamento e habitação no Estado. Em cerimônia realizada na praça do bairro Sarandi, que contou com a presença da governadora Yeda Crusius e do prefeito José Fogaça, entre outras autoridades, Lula afirmou que os investimentos de R$ 641,1 milhões não são motivados por interesses políticos.
Já o ministro das Cidades destacou que diversos municípios gaúchos já estão sendo contemplados pelo PAC, e que muitos outros serão em breve. "A liberação desses recursos é muito importante, pois vai permitir à população saneamento e melhor qualidade de água", disse Fortes.
Um dos principais projetos é o Sistema de Esgotamento Sanitário Ponta da Cadeia, contratado junto à prefeitura da Capital. O empreendimento vai ampliar o percentual de tratamento de esgoto no Centro e na Zona Sul da cidade de 27% para 77%. As obras serão custeadas com R$ 153,8 milhões, dos quais R$ 103 milhões serão financiados com recursos do FGTS. A complementação do projeto, orçado em R$ 52 milhões, tem financiamento federal de R$ 49,7 milhões. Cerca de 658 mil pessoas serão beneficiadas pelas obras.
O Sistema de Esgotamento Sanitário (SES) Sarandi teve a primeira etapa contratada no valor de R$ 45 milhões, dos quais R$ 40,5 milhões de financiamento federal. A obra contempla a Zona Norte com mais de 50 quilômetros de redes coletoras, duas estações de bombeamento e uma estação de tratamento, beneficiando mais de 8,7 mil famílias. "Temos PAC porque, além da parceria com o governo federal, temos saúde financeira e temos projetos", ressaltou o prefeito Fogaça.
Durante a cerimônia também foi assinado um contrato com a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) no valor de R$ 212,4 milhões, para bancar ações em 15 municípios gaúchos. Com R$ 190 milhões de financiamento federal, via Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes), os municípios de Alvorada, Campo Bom, Canoas, Charqueadas, Esteio, Gravataí, Guaíba, Passo Fundo, Portão, Rio Grande, Santa Maria, Santo Antônio da Patrulha, Sapiranga, Sapucaia do Sul e Três Coroas terão recursos para melhorar seus sistemas de água e esgoto.
Cerca de R$ 295 milhões do PAC asseguram a execução de obras de urbanização de favelas em 19 cidades. Entre os projetos em andamento, se destaca o da vila Dique, em Porto Alegre. A obra de infra-estrutura para a realocação de 1,1 mil famílias e outras 376 do entorno começou no início do ano. Para o reassentamento da população, serão erguidas 1.476 casas, 103 pontos comerciais, escola, creche, posto de saúde, centro comunitário, quadra esportiva, duas praças e galpão de reciclagem - atividade econômica de quase metade da comunidade. A ação de R$ 48,8 milhões conta com R$ 33,5 milhões do governo federal e possibilitará a ampliação do aeroporto Salgado Filho.
(JC-RS, 04/04/2008)