Na cabeça das elites brasileiras a escravidão não terminou. É só um detalhe que tenha mudado de formas e meios. Quando Paulo Skaf, imperador da República FIESP/DASLU gasta mais de um milhão de reais numa festa de casamento para sua filha, recebendo a nobreza e um ou outro plebeu (Arthur Virgílio, por exemplo, serviçal dedicado e que se presta a qualquer papel), ignora a fome, a miséria, a falta de serviços de saúde para os trabalhadores e o milhão gasto foi acumulado na exploração do trabalho.
Esse tipo de senhor de engenho (hoje de máquinas) só perde a valentia quando uma figura de força moral superior como Adib Jatene coloca o dedo nos seus "valentes" narizes e define-os como sonegadores. Abaixam a cabeça, sorriem o sorriso amarelo de todo canalha e seguem em frente, não tem nem escrúpulos e nem condições morais para reagir.
No mais sobem e descem ruas e elevadores com suas pastas fétidas e cheias de banguelas aprisionados em imagens sórdidas, reinando impávidos nos latifúndios do campo e da cidade onde constroem o mundo que chamam de "real", de "única alternativa" e passam incólumes no processo político dito institucional, uma espécie de curral onde guardam as leis, os poderes e as pessoas que pagam para que se mantenham monarcas da insensatez capitalista.
Tramita e está para ser votado na Câmara dos Deputados o projeto de emenda constitucional que propicia o confisco de terras onde seus proprietários façam uso do "trabalho escravo". O confisco se daria para que referidas terras fossem ou sejam usadas para a reforma agrária. Não há um dia que se passe sem que o noticiário dê conta da ação de fiscais do Ministério do Trabalho e polícias libertando trabalhadores em imensos condados desses senhores. Todos encontrados em condições abjetas e comuns a escravos.
Há o caso de um prefeito que mandou matar fiscais do Ministério, ele conhecido como "rei do feijão" para evitar sanções, multas, no seu desvario de senhor de escravos. Foi em Minas Gerais e teve repercussão internacional. Deputados da bancada ruralista (latifundiários, prepostos, pistoleiros eleitos em currais eleitorais, etc) aliados à monarquia FIESP/DASLU preparam-se para derrotar a emenda. Não admitem a abolição, que dirá que as terras sejam utilizadas para a reforma agrária.
A escravidão hoje tem formas diversas. Vem em brilho de néon, em marcas de sapatos, roupas de um modo geral, griffes cercadas de espetáculos de milhões e terminam na boate Bahamas, onde Moroni, o cafetão oficial das elites FIESP/DASLU recebe a todos sem a hipocrisia da prostituição disfarçada. São cascatas importadas diretamente de Shangri-la, o deles, despejadas no acinte dos casamentos shows de milhões de reais e palcos de fotos reluzentes nos principais jornais e revistas do País, com direito a felicidade eterna na Ilha de Caras.
Já os trabalhadores escravos, nas fazendas e nas cidades, esses permanecem banguelas (mesmo que tenham dentes) e subindo e descendo elevadores, repartindo mesas, prisioneiros do próprio medo, nas almas mantidas prisioneiras em pastas que tanto podem ter incrustações de ouro e fechos/aberturas de diamante, como a lambança de qualquer Zé Pastinha, no tipo "um dia chego lá". As portas se abrem em precipícios de troféus exibidos galhardamente no ócio vagabundo do "já viu as fotos?" O projeto de emenda constitucional é uma luta de trabalhadores contra exploradores.
(Por Laerte Braga *, Adital, 03/04/2008)
* Jornalista