O futuro do planeta está nas mãos das nações ricas, segundo representantes dos países em desenvolvimento presentes na conferência sobre mudança climática que acontece nesta semana na capital da Tailândia. O tom grave se deve à preocupação de que o mundo desenvolvido, maior contaminador do planeta desde a Revolução Industrial, embarque em novas manobras dilatórias em lugar de cumprir as metas do Protocolo de Kyoto assinado em 1997. Esse tratado ambiental complementa a Convenção Marco sobre Mudança Climática da Organização das Nações Unidas (Unfccc) de 1992. Em Kyoto, 37 países ricos, mais a União Européia, aceitaram reduzir em 5% suas emissões de gases causadores do efeito estufa até 2012. Mas, são poucos os que parecem estar no caminho de cumprir essa meta.
“Os países ricos devem honrar seu compromisso. Os que ratificaram o Protocolo de Kyoto devem cumprí-lo”, disse à IPS John Ashe, embaixador do Grupo dos 77, expressão do mundo em desenvolvimento na comunidade internacional. “A necessidade urgente de que as nações ricas cumpram sua redução de emissões foi ratificada na conferência sobre mudança climática realizada em Bali, em dezembro passado”, acrescentou. “Nos preocupa o fato de os países industrializados não terem priorizado a tarefa de alcançar a redução de emissões” estabelecida, prosseguiu Ashe.
A presente rodada de negociações em Bangcoc, iniciada na segunda-feira (31) com término previsto para sexta-feira (4), contempla dois aspectos. Um tem a ver com os compromissos assumidos pelos países ricos, com exceção dos Estados Unidos, que se retiraram em 2001, tão logo George W. Bush iniciou seu mandato, sua assinatura do Protocolo de Kyoto. O segundo ponto, aberto a todas as nações, se refere ao início de negociações para um acordo ambiental internacional que substitua o de 1997, que caducará em 2012. Esses dois enfoques deveriam convergir em uma conferência da ONU sobre mudança climática que acontecerá em Copenhague. Nessa oportunidade deverá surgir um novo pacto internacional para salvar o planeta do aquecimento global.
“Estamos no começo de um período de um ano e meio muito agitado no processo de dar resposta à mudança climática e devemos estar atentos a essas expectativas”, disse o secretário-executivo da Unfccc, Yvo de Boer. “As negociações devem concluir com um acordo consensual em Copenhague”, acrescentou. A reunião em Bangcoc deve fixar as linhas mestras para uma negociação que Boer definiu como “extremamente complexa”.
Varias questões dominam a agenda rumo à conferência em Copenhague. Entre elas figura o desenho de respostas adequadas diante da mudança climática e ações humanos voltadas a minimizar as emissões de gases causadores do efeito estufa, com ajudar os países a se adaptarem ao aquecimento global, implementar tecnologias “limpas” para o desenvolvimento econômico e destinar-lhes pacotes financeiros de assistência.
Em Bali, os países em desenvolvimento mudaram radicalmente o tom para evitar uma catástrofe ambiental. Nesse sentido, aceitaram a fixação de uma série de medidas para reduzir suas emissões de gases causadores do efeito estufa. Mas, em troca, pediram que as nações industrializadas os ajudem com “tecnologias verdes” lhes dê financiamento “em um contexto de desenvolvimento sustentável”. No longo prazo, não se pode esperar que os países em desenvolvimento adotem metas de redução de emissões se as nações ricas não se comprometem com cortes adicionais e o “cumprimento de suas obrigações de financiamento adicional e de transferência de tecnologia”, disse a delegação indiana presente em Bangcoc.
“A carga cai nos ombros dos países industrializados”, afirmou Shruti Shukla, coordenador de políticas ambientais e energéticas para a Índia do não-governamental Fundo Mundial para a Natureza. “Este é o primeiro passo de seu compromisso para combater o aquecimento global e nesta questão estão muito atrás”. Mas, criar consciência é um desafio. “Está não é uma guerra contra o crescimento econômico, mas contra as emissões de gases que provocam o efeito estufa. Temos muito por fazer no futuro para que o crescimento verde seja economicamente viável”, disse Yvo de Boer.
(Por Marwaan Macan-Markar, IPS, Envolverde, 03/04/2008)