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zoneamento ecológico-econômico
2008-04-04
O projeto de Zoneamento Agroecológico e Ambiental de Mato Grosso vai ter vida dura para ser transformado em lei. Pelo menos no que diz respeito à essência de uma legislação voltada a regular as atividades econômicas de todo o Estado. Próximo de ser encaminhado para a Assembléia Legislativa, o projeto já tem indicados preocupantes. Primeiro, os riscos de descaracterização por causa do período em que a matéria será debatida com a sociedade, abrindo possibilidades de ações de caráter populista e eleitoreiras. Segundo porque o cerne do projeto implica em enfrentamento com os chamados grupos empresariais.

"Esse projeto será a principal "marca" da gestão Blairo Maggi" - prevê Alfredo da Mota Menezes, professor universitário, escritor, conhecedor profundo das intrincadas relações sócio-políticas e econômicas da América Latina e um dos mais respeitados colaboradores do Governo de Dante de Oliveira e do PSDB. Menezes, contudo, ressalta que o governador terá de se empenhar muito, se dedicar pra valer para ver o projeto aprovado de forma consistente e equilibrado. Segundo ele, o plano choca quando o assunto são interesses regionais e poderá encontrar entraves com os parlamentares que não quererem brigar com seus eleitores e muito menos com grupos empresariais.

Menezes é um profundo conhecedor do zoneamento. O plano começou a ser esboçado na gestão de Carlos Bezerra-Edison Freitas-Moisés Feltrin - quando boa parte do "tucanato" atual se abrigava na sigla peemedebista - passou pelo Governo de Jaime Campos e ganhou fôlego nos dois mandatos de Dante.

Na entrevista exclusiva, o professor faz uma revelação preocupante: Brasília está lançando o PAS - Plano da Amazônia Sustentável - que choca com o plano apresentado pelo governador. Outro assunto que ele aborda é com a questão do senador Gilberto Goellner que vem defendendo abertamente para que Mato Grosso seja excluído da Amazônia Legal, uma idéia que pode provocar a ira internacional e problemas sérios para o Brasil.

A integra da entrevista com Alfredo Menezes

Professor, o Zoneamento Sócio-ecológico de Mato Grosso, que foi apresentado nesta semana pelo governador Blairo Maggi é bom para o Estado? Que analise o senhor faz sobre este projeto?
Alfredo da Mota Menezes - Eu começo fazendo uma colocação mais contundente: Se o Blairo, o Governo Blairo, conseguir fazer esse plano agro-ambiental ele vai dar ao governo dele, uma marca. Até hoje ele não tem esta marca e se você perguntar para a população qual é a identificação do Governo Blairo, se é em educação, saúde, ninguém sabe. Portanto, se esse plano realmente sair o governo dele vai ganhar esta marca, porque é um plano que vai definir onde que se pode produzir, onde não se pode produzir, ate onde pode ir a pecuária, ate onde pode ir o plantio de cana, coisas nesse sentido. Com isso, é uma carta de auforia que Mato Grosso tem pra enfrentar qualquer tipo de Arco de Fogo, Operação Currupira. Porque vão dizer o seguinte: nós temos um plano aprovado que podemos ou não fazer. Agora o que eu acho é que vai ser difícil a sua realização. E este problema vem desde o governo Jaime Campos, passou pelo governo Dante de Oliveira também. A razão da dificuldade é bastante simples. Na hora que for discutir, vamos dizer lá na região das madeireiras, onde a Assembléia vai fazer o encontro. Será que nesta discussão, os empresários não vão defender seus interesses, os deputados não vão defende os interesses de suas regiões. Será que não vão querer que avance mais pra isso ou para aquilo. Ai vai ter um choque. Você tem uma idéia boa para fazer e os interesses localizados vão quase impedir isso. E ai que a liderança do governador terá de funcionar. Eu estou com um artigo nesse sentido, onde afirmo que a maior liderança dele nesse momento é fazer com que a coisa dele chegasse ao fim. E ele como é acusado como destruidor da selva sairia por cima dizendo: "Eu fiz o plano agro-ambiental de Mato Grosso", dai pra frente nos podemos vender mais carne, mais soja , mais madeiras e nem legalizá-las para o exterior.

Aprovação seria a salvação?
Alfredo - Seria a salvação. Seria bom para Mato Grosso, seria bom para o governo dele, mas, sinto dificuldade e já vi isso no passado. E porquê não fizeram no passado? É que batia de frente com interesses, daí recuavam. Agora, veja só, no ano de eleição municipal você vai lá no Nortão discutir a questão da floresta e da zona de transição, dizer o que pode plantar aqui e o que não pode plantar ali, isso em plena campanha eleitoral?? Vai dizer isso se eles estão precisando de votos? O Deputado que representa aquela região vai querer enfrentar o eleitor e dizer que o eleitor esta errado e que o plano do governador é que esta certo? Vai ser complicado. Mas eu torço para dar certo. Eu vim aqui e quase não estou vindo em solenidades públicas, porque eu acho que é uma das maiores coisas que poderá acontecer no Mato Grosso nos últimos tempos.

Quando o senhor diz que poderá haver um choque lá na ponta, o choque seria interesseiro no caso?]
Alfredo - Claro, claro. O grupo que tem pecuária, o grupo que tem madeira, o grupo que tem soja, o grupo que tem isso e tem aquilo, vai defender o seu interesse, o seu interesse econômico. Como você vai entregar isso de mão beijada de uma hora para outra? Por que você vai fazer um plano em que, vamos dizer daqui para frente não pode fazer isso, só daqui para trás. É uma questão de tempo e de espaço. E ai como ele vai fazer, ele vai concordar? E ai é um interesse dele mesmo. Ele está correto e vai defender o interesse dele mesmo, ou ele vai entregar de mão beijada? É isso que pode ter um choque. É ai que vai precisar da liderança do governador.

O governador disse durante o discurso de lançamento do plano agro-ambiental que muitas pessoas não tem interesse que esse projeto vá para frente. Segundo ele seriam aqueles que não querem que o governo melhore a situação do interior, melhore a situação dos madeireiros. O senhor entende assim também?
Alfredo - É, eu entendi mais ou menos assim. Claro que existe os opositores de qualquer governo. Então tem aqueles que como o Lula gosta de falar muito nisso. Ele mesmo disse que fazia muito isso, que torcia algumas vezes para o governo dar errado, ele na oposição. Então o governador vê o Lula dizendo que tem hoje gente na oposição torcendo para o governo dar errado, como em Mato Grosso tem gente torcendo para o governo Maggi dar errado. Mas nesse aspecto, nesse assunto esse plano agro-ambiental é de tamanho interesse para Mato Grosso que até a oposição tem que jogar junto.

Governo e oposição vão ter de unir forças, professor?
Alfredo - Sim, unir as forças. Quando eu falo que pode ter oposição, é o interesse não eleitoral e sim o interesse de determinados grupos econômico. Vamos supor que esse plano em uma determinada região perturbe o interesse dos madeireiros daquela região. Esses madeireiros vão concordar?. Não. Então é nesse sentido que eu estou colocando. Mas politicamente eu acho que a oposição vai ser inteligente de jogar na mesma direção porque esse plano é de interesse do Estado.

Mas até a Assembléia Legislativa vem demonstrando interesse nesse projeto
Alfredo - Sim; Esta mas agora é difícil né. Eu não vou citar nomes de deputados, mas você pega deputado de uma determinada região, eleito na região. Em determinado momento chega este plano agro-industrial que hipoteticamente pode prejudicar toda a região, os moradores, a classe empresarial. Este deputado vai ficar a favor do plano apresentado pelo governador ou do eleitor dele e dos empresários que o ajudaram nasem sua campanha e que pode financiar sua próximas campanhas? Ai você fala assim: o deputado esta errado. Não ele não está errado, ele vive disso, essa é a função dele, é a profissão dele. Como ele vai na sua região, encontrar o seu próprio eleitorado, defender um plano que não favorece sua região? Seria burrice né!!

Seria uma faca de dois gumes para o deputado?
Alfredo - Sim, sem duvida, sem duvida. É ai que tem que funcionar a liderança do governador. Ele tem que pegar no chifre da coisa. Ai você vê como é mesmo o negocio Agora mesmo nós estavamos vendo o senador Gilberto Guelner falando do encontro que vai discutir a questão agro-ambiental. Vimos defendendo o projeto do Jonas Pinheiro e o dele de tirar Mato Grosso da Amazônia Legal. Olha que incoerência. Numa reunião que ainda vai discutir como é que nos vamos ficar. Ele está defendendo. O Jonas já tinha o projeto no Senado e ele esta defendendo tirar Mato Grosso da Amazônia Legal. Como nó vamos levar isso para uma discussão? Se ele tirar Mato Grosso da Amazônia Legal o mundo vem abaixo! Você está me entendendo. E tem outra coisa eu não estava sabendo disso, o representante de Brasília falou que o presidente Lula dentro de alguns dias estará lançando o PAS (Plano da Amazônia Sustentável). Será que esse projeto de Mato Grosso não vai chocar com esse que vem de Brasília? Como vai ficar isso? Mas o assunto é interessante e importante para todos nós, e eu torço. E acredito que o plano agro-ambiental lançado pelo governo do Estado é uma das melhores coisas que Blairo Maggi está fazendo.

Este será um assunto bem caloroso
Alfredo - Vai sim, vai sim. E eu quero ver essa questão de Brasília para ver como Brasília vai fazer.

(24 Horas News, 03/04/2008)


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