Grupo da UFRJ aponta, durante debate, as falhas na prevenção e nas ações de combate à epidemia no RioPara os especialistas, a mobilização feita agora pelas autoridades deveria ter ocorrido antes da explosão de casos
"A dengue é a doença da omissão e dos sete erros", disse Edmilson Migowski, professor de infectologia pediátrica, em debate de especialistas em dengue ontem no Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). O grupo apontou as falhas no combate à doença que acabaram gerando a epidemia que o Rio agora tenta enfrentar.
Para eles, a mobilização feita agora pelas autoridades tinha que ter ocorrido antes da epidemia. O governo fluminense foi criticado por querer trazer médicos de Estados que não têm casos de dengue.
Migowski criticou a falta de uma campanha sistemática do governo. Para ele, a recusa das autoridades em assumir a epidemia fez as pessoas acharem que não havia muitos casos e relaxassem nas medidas de prevenção domésticas.
O médico alerta que todos os antitérmicos devem ser evitados em pacientes com dengue, já que nenhum medicamento foi testado quanto à segurança e à eficácia contra a doença, inclusive o paracetamol (Tylenol, entre outros), que tem sido receitado. Ele enfatiza a hidratação, mesmo antes de o paciente ser diagnosticado.
Para a professora do departamento de medicina preventiva da UFRJ, Diana Maul, a dengue veio para ficar, mas há modos de tratá-la e de reduzir seus níveis de mortalidade.
"As ações que têm sido tomadas não têm efeito a curto prazo. Elas precisam ser mantidas e ser ampliadas", afirmou. "Não pode chegar o inverno e a gente achar que acabou."
Celso Ferreira Ramos Filho, também da UFRJ, disse que, numa epidemia, qualquer suspeita deve ser tratada como dengue. Ele alertou que os casos de dengue hemorrágica nem sempre são acompanhados de hemorragia. O doente pode apresentar um quadro de choque e morrer por insuficiência circulatória, sem ter sangramentos.
Para o médico, é fundamental medir a pressão dos doentes. "Não tem que trazer pediatra de fora, tem que trazer manguitos [parte do aparelho de medir pressão que envolve o braço do paciente] para tirar a pressão das crianças", disse.
Os especialistas ironizaram o pedido de médicos a Estados como o Rio Grande do Sul, que não teriam experiência para lidar com pacientes com dengue.
"Se for para trazer médicos de fora, que venha de Fortaleza (CE), porque eles tiveram experiência de dengue em crianças", afirmou Ramos Filho.
(Malu Toledo,
Folha de São Paulo, 03/04/2008)
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