Parte das dificuldades que o país hoje enfrenta para combater a dengue está associada aos problemas na área de segurança pública. A afirmação foi feita em audiência pública, nesta terça-feira (1º), pelo especialista Pedro Luiz Tauil, da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (ABMT). Por causa da violência, segundo ele, agentes sanitários muitas vezes não conseguem atuar em áreas pobres onde prolifera o aedes aegypti, principal transmissor da doença. Já moradores de bairros de maior poder aquisitivo evitariam dar acesso aos agentes pelo temor a assaltos e seqüestros.
Como fator determinante para a proliferação da dengue, no entanto, ele apontou a acelerada urbanização no país, caracterizada pela aglomeração de pessoas em habitações precárias, em áreas sem abastecimento de água e saneamento. Observou que, nesses locais, as pessoas são obrigadas a acumular água de forma improvisada, em reservatórios que favorecem a reprodução do aedes aegypti. Segundo comentou, até coberturas de lajes, típicas em favelas, acabam acumulando água e funcionando como criadouros do mosquito.
Tauil considerou ainda que a Baixada Fluminense é a região de maior densidade populacional do país, o que explicaria o fato de estar no epicentro de uma epidemia de dengue no Rio de Janeiro. Em todo o estado, já são registrados, segundo dados da imprensa, mais de 65 óbitos por dengue hemorrágica.
Aedes: retorno nas Américas
O expositor afirmou não existir atualmente, em nenhuma parte do mundo, um modelo de enfrentamento da dengue totalmente eficaz. Lembrou que o Brasil estava entre os dezoito países das Américas que haviam praticamente eliminado o aedes aegypti nos anos 70. Hoje, entretanto, apenas duas nações do grupo - o Chile e o Canadá - estão aparentemente sem reinserção do mosquito transmissor.
Segundo cogitou, haveria duas hipóteses para o retorno da dengue. A primeira, pela transferência, para o país, de hospedeiros do sudoeste asiático, região onde o problema assumiu grandes proporções a partir dos anos 50. Ou, ainda, pela migração de pessoas dentro do próprio Brasil, a partir de regiões onde o vírus resistia em ciclo silvestre.
Mesmo não havendo perspectivas imediatas para a eliminação do mosquito, o especialista considerou inadmissível que pessoas morram em decorrência da dengue. Em sua avaliação, isso está acontecendo mais por conta da desorganização dos sistemas públicos de saúde. Por isso, defendeu esforço concentrado na reorganização dos serviços de saúde, para evitar mais mortes.
Embora considere que o país não deva dar trégua no combate ao aedes aegypti, Tauil reivindica mais recursos para pesquisas de uma vacina com capacidade de resposta para os quatro tipos de vírus associados à dengue. Ele apontou essa como sua "grande esperança", apontando trabalhos promissores na área realizados pelo Instituto Butantã, em São Paulo.
(Por Gorette Brandão,
Agência Senado, 01/04/2008)