Recentemente, ambientalistas e residentes locais se reuniram próximo à pequena cidade chilena de Cochrane para protestar contra o plano de construção uma série barreiras hidrelétricas na região. Cochrane é parte da região da Patagônia chilena e pode ser totalmente transformada, sem o devido consentimento, caso o projeto seja levado adiante. Contudo, as mudanças no vilarejo podem não ser nada se comparadas ao impacto na Patagônia.
As barreiras – duas no rio Baker e três no rio Pascua – iriam danificar irreparavelmente uma das áreas mais bonitas de todo o planeta. A construção de barreiras também significaria construir um corredor mecânico de vasta extensão em direção à capital do Chile, Santiago – uma grande cicatriz através da paisagem mais sedutora do país. A maior parte da eletricidade gerada pelo projeto seria destinada à mineração e indústria, e não para ao consumo doméstico.
De certa forma, a proposta das barreiras é um resíduo do governo de Pinochet, que privatizou o direito da água no Chile. A subsidiária chilena da companhia espanhola Endesa agora comprou os direitos e está pressionando para a realização do projeto. O governo chileno, eleito democraticamente, permite que isto aconteça facilmente. A administração adiou a liberação de uma avaliação do impacto ambiental para junho. Ela deve reconsiderar o projeto inteiramente.
O Chile precisa desesperadamente de novas fontes de energia. O país passa por uma séria crise energética devido à aridez, forte redução da importação de gás natural da Argentina e o agravamento do preço de petróleo global.
Destruir esses rios e a vida que depende deles está longe de ser a solução. Freqüentemente, o problema da energia no Chile é tensionado por escolhas de construir barreiras como estas ou utilizar a energia nuclear. Resolver a crise de maneira responsável exigirá uma ação voluntária para explorar também outras fontes renováveis de energia, como a solar, a eólica e geotérmica.
A construção em alta escala de barreiras hidrelétricas é uma maneira arcaica do mundo para obter energia. Com a conjuntura ambiental deste planeta, é muito tarde para aceitar tais soluções ecologicamente destrutivas para a demanda de energia, ou ainda tal modelo desenfreado que eles tendem a abastecer. O governo chileno deveria reconsiderar tais planos míopes, bem como fariam os proprietários internacionais do direito sobre a água desses rios.
(The New York Times, UOL, 01/04/2008)