Os britânicos talvez sejam os europeus mais preocupados com a mudança climática, mas poucas pessoas nesta minúscula aldeia inglesa querem fazer parte da mais recente proposta de seu governo para um futuro de baixa emissão de carbono: uma iniciativa chamada eco-cidade.
Stoughton é uma de cerca de 60 áreas em consideração para novos desenvolvimentos de eco-cidades, assim chamadas porque supostamente serão neutras em emissão de carbono pelo uso de tecnologia limpa e projetos para reduzir o dióxido de carbono. A lista das 15 áreas selecionadas será anunciada em breve, e Stoughton -como uma série de outras comunidades pelo Reino Unido- está lutando para ficar de fora.
Os moradores de Stoughton e seus representantes políticos dizem que sua área é predominantemente rural e que esses desenvolvimentos, que envolvem até 20.000 novas casas, causariam mais dano do que bem ao ambiente e à comunidade. Eles também dizem que as eco-cidades estão sendo usadas pelos incorporadores como uma forma de conquistar aprovação para projetos pouco populares para aliviar a falta crônica de moradia no Reino Unido.
O conceito de eco-cidade foi debatido pelo primeiro-ministro Gordon Brown no ano passado, refletindo parcialmente sua estratégia de vencer o líder conservador da oposição David Cameron em questões verdes.
Membros do governo insistem que as eco-cidades são uma forma inovadora de cortar os gases de efeito estufa, em uma época em que a moradia representa cerca de um quarto das emissões de carbono do Reino Unido. Eles também dizem que construir uma infra-estrutura inteiramente nova para criar moradias de baixo carbono é muito mais barato do que adaptar as casas antigas.
Em parte, a hostilidade em relação as eco-cidades reflete o desejo dos moradores de evitar novos desenvolvimentos que ameaçariam seus belos recantos rurais. Entretanto, ela também ressalta como é difícil para os governos -até mesmo em países verdes como o Reino Unido- encontrarem formas de desenvolver moradias que genuinamente transformem o estilo de vida dos cidadãos.
Os incorporadores "se agarraram na palavra 'eco' para conseguir todo um novo apelo", disse Edward Garnier, membro conservador no Parlamento que representa uma área que inclui Stoughton. "Ainda não estou convencido que muitas dessas eco-cidades sejam algo mais do que propostas de planejamento requentadas, que foram negadas no passado", disse ele.
Phil Edwards, porta-voz do Cooperative Group, que detém a terra e está buscando desenvolver a eco-cidade em conjunto com a agência do governo English Partnerships, disse que os planos para Stoughton eram genuinamente novos. Entretanto, alegou que era cedo demais para dizer quais tecnologias seriam usadas para ajudar a cidade a alcançar o status de carbono zero.
Edwards disse que esses planos seriam discutidos com a comunidade se a eco-cidade em Stoughton receber o sinal verde. De acordo com a ministra de habitação, Caroline Flint, as eco-cidades serão tipos inteiramente novos de assentamentos, pela forma que administrarão a água, estimularão a vida em comunidade e darão prioridade aos pedestres, ciclistas e ao uso do transporte público.
As famílias morarão a dez minutos das novas escolas e centros de saúde, enquanto menos da metade de todas as casas dependerão dos carros de passeio para suas necessidades de transporte. Cada cidade também terá que reservar meio hectare de espaço verde para cada 100 casas.
Outro benefício, disse Flint, será que até metade de cada projeto envolverá moradias a preços acessíveis, para assegurar "que os mais altos padrões de tecnologia verde não sejam acessíveis apenas aos ricos". Especialistas em meio ambiente dizem que um sinal que indica que governo está falando sério sobre as eco-cidades é a promessa de milhares de libras de alívio fiscal para quem comprar uma casa de carbono zero.
Georgina Crowhurst, advogada ambiental da firma Clyde & Co, em Londres, disse que os incorporadores estavam ansiosos em participar na construção das eco-cidades porque acreditavam encontrar compradores entusiasmados com as casas. Os aldeões em Stoughton dizem que faz muito mais sentido melhorar as casas existentes na cidade grande mais próxima, Leicester, do que criar cidades a partir do nada, prejudicando as aldeias próximas, pavimentando terras aráveis e destruindo locais de recreação.
No caso de Stoughton, esses locais incluem uma pequena pista de pouso situada no coração do projeto da eco-cidade. O clube de aviação teria que fechar, e seus membros estão entre os maiores opositores do projeto. Ivan Court, gerente do Leicestershire Aero Club, disse que não acreditava que uma cidade poderia se tornar neutra em carbono.
Court disse que a pista não tem maior impacto na poluição aérea local do que terá a eco-cidade; ele também salientou que os 70 pequenos aviões do clube consomem cerca do mesmo combustível que um carro de família viajando distâncias similares. Desde que as propostas para Stoughton se tornaram públicas, em novembro, centenas de pessoas de cidades e aldeias fizeram manifestações contra os planos. Cartazes proclamando "abaixo a eco-cidade" adornam as vitrines e casas em Stoughton e nas aldeias próximas.
Os moradores estão particularmente preocupados com o aumento do trânsito, advertindo que uma nova cidade traria até 30.000 carros novos para cidade. Os aldeões dizem que outras idéias da eco-cidade -como exigir velocidade máxima de 25 km por hora em importantes estradas- não eram realistas e que qualquer novo desenvolvimento inevitavelmente significaria novas estradas e veículos.
"Disseram que a idéia é que as pessoas ficarão nesta eco-cidade e que não vão precisar de carro para viajar para longe da cidade", disse Bob Battey, 72, que mora em Stoughton. "Mas como você pode obrigar esse tipo de regra, que tira a liberdade de escolha das pessoas?"
(Por James Kanter, International Herald Tribune, tradução de Deborah Weinberg, UOL, 02/04/2008)