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extinção de espécies impactos mudança climática
2008-04-02

Estamos mais perto de entender as causas da extinção dos mamutes. A grande perda de hábitat provocada por mudanças climáticas reduziu muito e deixou vulnerável a população de mamutes-lanosos, última espécie desse grupo que evoluiu para habitar as regiões mais ao norte do planeta. Mas o golpe definitivo para banir esses animais da superfície da Terra foi o aumento da pressão da caça humana, como mostra uma avaliação quantitativa inédita conduzida por cientistas espanhóis.

Os mamutes-lanosos (Mammuthus primigenius), que receberam esse nome por possuírem um grosso manto de pêlos, eram mamíferos herbívoros que viviam em áreas com um tipo de vegetação esparsa e de clima frio e seco. Esses animais habitaram a Eurásia e a América do Norte desde o fim do Pleistoceno médio (há 300 mil anos) e sobreviveram a diferentes ciclos climáticos até desaparecerem no Holoceno médio (há 3,6 mil anos), na Sibéria ártica.

Com o aumento progressivo da temperatura no planeta a partir de 21 mil anos atrás, as áreas com condições climáticas adequadas aos mamutes-lanosos tornaram-se muito pequenas para hospedar populações capazes de resistir ao aumento da pressão da caça humana (arte: Mauricio Anton).
 
As duas principais teorias existentes para explicar sua extinção atribuem-na, por um lado, ao impacto das mudanças climáticas e, por outro, à pressão antropogênica. Somente nos últimos anos surgiu uma hipótese que associa esses dois fatores. Segundo ela, após o último máximo glacial, há 21 mil anos, o clima ficou cada vez mais quente e úmido e provocou a transformação da vegetação e a redução da extensão geográfica dos hábitats onde os últimos mamutes-lanosos viveram durante o Holoceno médio.

Ao mesmo tempo, populações humanas começaram a se dispersar pelo norte da Eurásia cerca de 40 mil anos atrás e o aumento da temperatura permitiu que elas se movessem em direção ao território ocupado por esses mamíferos peludos, que passaram a enfrentar simultaneamente o calor e a intensificação da caça humana.

Agora, pela primeira vez, um estudo avaliou quantitativamente o impacto combinado desses dois fatores. Para isso, os cientistas, liderados por David Nogués-Bravo, do Museu Nacional de Ciências Naturais, na Espanha, estimaram o clima em que viveram os mamutes-lanosos e a distribuição de sua população em diferentes épocas de sua história (126 mil, 42 mil, 30 mil, 21 mil e 6 mil anos atrás), considerando simulações de temperatura e chuva ao longo dos períodos e a localização dos fósseis desses animais.

Redução drástica de hábitat
Os resultados, publicados na revista PLoS Biology desta semana, mostram que as áreas com condições climáticas apropriadas para os mamutes diminuíram progressivamente depois de 42 mil anos atrás e, há 6 mil anos, esses animais ficaram relegados a apenas 10% de seu hábitat. Os nichos remanescentes se restringiam principalmente à Sibéria ártica, local onde foram encontrados os últimos registros de mamutes-lanosos na Ásia continental.

Esses mamíferos já tinham enfrentado situação climática pior há 126 mil anos, quando altas temperaturas restringiram globalmente seu hábitat ainda mais do que há 6 mil anos. Mas, naquela ocasião, eles não se depararam com os homens. “Na ausência da caça humana, as populações de mamutes poderiam ter sobrevivido em pequenos bolsões de hábitat apropriado (...), como deve ter acontecido há 126 mil anos”, dizem os autores no artigo.

Segundo eles, a perda de hábitat causou uma queda significativa no tamanho da população de mamutes-lanosos e tornou a espécie mais vulnerável a pressões de caça da crescente população humana. “A coincidência do desaparecimento de áreas apropriadas climaticamente para os mamutes-lanosos e o aumento dos impactos antropogênicos no Holoceno, o golpe de misericórdia, provavelmente determinaram lugar e tempo para a extinção dos mamutes-lanosos”, afirmam.

Os pesquisadores estimaram ainda a intensidade de caça necessária para extinguir os mamutes-lanosos no período estudado. Considerando estimativas otimistas do número de espécimes sobreviventes há 6 mil anos, bastaria que cada humano que habitasse a área de distribuição geográfica desses mamutes abatesse um animal a cada três anos para levar a espécie à extinção. Com números pessimistas para a sobrevivência dos mamutes ao clima, aproximadamente um animal morto por pessoa a cada 200 anos seria suficiente para o fim do grupo.

Em entrevista à CH On-line, Nogués-Bravo defende que esta é a abordagem mais robusta para estimar a magnitude do impacto combinado dos fatores climáticos e antropogênicos sobre as populações desses mamutes. “Contudo, o papel específico dos humanos para a extinção ainda deve ser determinado”, ressalta ele. “Precisamos saber se houve caça direta ou não e a intensidade real dessa caça.”

(Por Thaís Fernandes, Ciência Hoje On-line, 01/04/2008)


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