Cresce a preocupação no país com os níveis de contaminação química em muitas zonas do território nacional. A razão é simples. Segundo dados do Ministério da Pecuária, nos últimos sete anos o uso de herbicidas aumentou 367%, de fungicidas 140%, de inseticidas 292% e outros produtos 387%. É conseqüência direta da expansão das superfícies agrícolas e florestais, que cresceram significativamente.
A área de soja cresce ano após ano. Já supera os 500 mil hectares e nada parece detê-la. Esta expansão agrícola e da silvicultura vai de mãos dadas com a utilização de venenos químicos, que pretendem combater pragas, doenças e competidores das plantas e árvores que se cultivam.
Trata-se de um velho problema que longe de diminuir se agrava porque se inverteu a equação original. Se por um lado os produtos são fabricados com maior especificidade e menor duração dos seus princípios ativos – com a finalidade de reduzir o dano ambiental – que antes, as quantidades hoje aplicadas são tão grandes que é muito grave o impacto negativo nos ecossistemas e sistemas hídricos.
Considerando a enorme capacidade transportadora de águas superficiais e subterrâneas, o lógico é que preocupe cada vez mais o que está acontecendo com os pesticidas, fungicidas, inseticidas e fertilizantes que se aplicam por todo o país.
É fácil concluir que esses venenos invisíveis chegam a locais muito distantes de onde foram utilizados, seguramente afetando plantas, animais e pessoas de maneira muito variada.
O Ministério da Pecuária implantou mês passado restrições importantes a respeito disso. Está proibida a aplicação aérea de produtos fitosanitários a uma distância inferior a 30 metros de rios, arroios, açudes, lagoas, barragens e represas. Se se trata de fumegação terrestre, a limitação é de 10 metros das correntes ou fontes de água superficial.
A intenção é muito boa, mas é óbvio que é incontrolável. Em primeiro lugar, o ministério não tem a capacidade de controlar a imensa superfície cultivada no país. De que maneira então pode fiscalizar para que sejam respeitadas as restrições impostas? Tudo acaba livrando a responsabilidade de produtores e aplicadores desses produtos.
Como em tudo na vida, esse é o objetivo último. O cuidado do ambiente, a conservação dos recursos naturais é uma obrigação de todos. Mas sem o envolvimento dos diferentes setores da comunidade, esse objetivo não será alcançado nunca. Em todo caso, os controles estatais e municipais deveriam estar aí para punir aos transgressores – que sempre existirão.
Qualquer pessoa vinculada à fumigação aérea sabe que atuam muitas variáveis na hora de realizar o trabalho. O principal deles são a direção e intensidade dos ventos, e a topografia do terreno. A isso há que se agregar a enorme dificuldade que significa respeitar o limite dos 30 metros de distância de cursos e fontes d'água, considerando os caminhos sinuosos que normalmente descrevem arroios e rios de nosso país.
Precisamos saber o que está ocorrendo e como controlar a contaminação dos aqüíferos. O crescimento agropecuário tem certos custos que devem ser considerados com muito cuidado na hora de planejar nosso futuro.
(Por Hernán Sorhuet Gelós*, Eco Agencia, 01/04/2008)
*O autor é jornalista no Uruguai e escreve artigos sobre meio ambiente para o jornal El País, de Montevidéo. Tradução de Ulisses A. Nenê, da EcoAgência.