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2008-04-02

Os céticos do clima estão mudando o discurso. Confrontados com um virtual consenso de que o aquecimento global é real e é causado por atividades humanas, eles deixaram de negar a existência do problema --mas afirmam que não há motivo para preocupação.

Na segunda-feira, dois céticos apresentaram seus argumentos para uma platéia de uma centena de pessoas no Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais), em São Paulo: o climatologista americano Pat Michaels e o estatístico dinamarquês Bjorn Lomborg.


Michaels é ex-climatologista do governo do Estado da Virgínia. Recebeu US$ 100 mil da indústria do carvão e do petróleo dos Estados Unidos para liderar uma campanha destinada a "trazer equilíbrio à discussão [sobre a mudança climática]".

Lomborg virou celebridade com o livro "O Ambientalista Cético", de 2001, no qual argumenta que o planeta nunca esteve tão bem e que é besteira investir em proteção ambiental --o dinheiro seria melhor gasto em programas sociais.

Em 2004, organizou o Consenso de Copenhague, grupo de economistas que se auto-atribuiu a tarefa de listar os maiores problemas do mundo cuja solução é positiva em termos de custo-benefício. O aquecimento global ocupa a 16ª posição.

Duvidem dos cientistas
Michaels abriu sua conferência atacando o IPCC, o painel de climatologistas ligado à ONU que dividiu com Al Gore o Prêmio Nobel da Paz em 2007. "Só porque vocês leram que centenas de cientistas acham que alguma coisa é verdade não significa que seja a verdade nua." Para Michaels, as incertezas inerentes à previsão do clima tornam arriscadas previsões. "Sim, o aquecimento global existe. Mas ele não está necessariamente ficando pior."

Apresentou vários dados para ilustrar seu ponto. Um deles é que a maior parte da Antártida está mais fria e não mais quente. Isso inclui o manto de gelo da Antártida Oriental, a maior massa de gelo no planeta. "O gelo antártico está em sua extensão máxima", disse.

Os climatologistas do IPCC afirmam que o frio na Antártida é previsto desde 1970 pelos modelos de aquecimento. A razão disso é que o hemisfério Sul é mais água do que terra --e os oceanos são mais lentos para conduzir calor. Eles tampouco se preocupam com o degelo na Antártida Oriental. O problema está na Antártida Ocidental, região que está derretendo depressa (é onde fica a plataforma Wilkins, que está rachando neste momento) e cujo degelo total poderia elevar em 5 m o nível do mar.

Michaels não falou sobre a Antártida Ocidental. Também mostrou-se irritado quando inquirido pela Folha sobre seus laços financeiros com a indústria do petróleo e do carvão. "Não vi escrito em lugar nenhum que pessoas no mundo dos negócios não podem fazer perguntas sobre o aquecimento global", disse.

Ursos-polares
Lomborg também apressou-se a dizer que o aquecimento global "é real e causado pelo homem". Mas argumentou que suas conseqüências são exageradas e apresentadas de forma unilateral. "Em 2050, estima-se que o aquecimento global vá causar 2 mil mortes a mais por calor no Reino Unido. Mas também haverá 20 mil mortes a menos por frio."

Também atacou o Protocolo de Kyoto e o corte de emissões de gás carbônico, que considera "um mau investimento" de "US$ 180 bilhões por ano" para pouco benefício. Citou o exemplo dos ursos-polares. "Se você parar o aquecimento global, você vai salvar um urso polar por ano. Mas todos os anos nós matamos centenas de ursos-polares." Talvez em vez de cortar emissões, argumenta, devêssemos parar de atirar nos ursos.

O mesmo argumento vale para as projeções de aumento da malária e de dano por furacões no golfo do México: é mais barato e eficiente resolver problemas sociais do que estrangular a indústria e o livre-mercado com cotas de emissão. Afinal, diz Lomborg, o mundo está ficando cada vez mais rico, e uma afluência maior permitirá aos países adaptarem-se ao clima no futuro.

O físico Luiz Gylvan Meira Filho, da USP, ex-vice-presidente do IPCC, diz que o problema de Lomborg é que ele assume uma "taxa de desconto" alta. Ou seja, se você descontar para valores de hoje, esse benefício da redução de emissões projetado para o futuro não vale nada. E isso, afirma, não é uma questão científica. "Ele é só um cidadão tentando convencer a sociedade dinamarquesa --sem sucesso."

(Por CLAUDIO ANGELO, Folha de S.Paulo, 01/04/2008)


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