Para resolver o problema do saneamento em regiões de difícil acesso, a Prefeitura municipal de Petrópolis, cidade com 300 mil habitantes, situada na região serrana do Rio de Janeiro, contratou uma empresa privada para aplicação do
programa que transforma esgoto “in natura” em biogás, através dos biodigestores.
Segundo o coordenador de Operações de Esgoto do
Consórcio Águas do Imperador S/A., André Lermontov, o biodigestor é até 60% mais barato do que as estações convencionais de tratamento de resíduos e uma alternativa para lugares onde a topografia torna inviável o saneamento tradicional. “A vantagem é a diminuição dos custos com unidades de bombeamento, pois dispensa produtos químicos, imensas redes coletoras e o uso de elevatórias”, esclarece. O
Instituto Ambiental (OIA) de Petrópolis foi contratado pela empresa para planejar e executar a obra.
A alternativa economiza o uso de outras fontes de energia, como a lenha e o Gás Liquefeito de Petróleo (GLP). O biogás também pode ser usado em lampiões, geladeiras, chocadeiras, secadores de grãos, para motores de combustão interna, geração de energia elétrica e para o aquecimento e balanço calorífico.
Como funcionaO biodigestor é uma câmara hermeticamente fechada, feita com tijolos maciços ou com argamassa armada, onde fica armazenado o esgoto diluído em água. Ali ocorre um processo de fermentação anaeróbia (sem presença de oxigênio) pela ação de bactérias que se alimentam dos nutrientes desta solução. O resultado do “banquete”, conta André, é a redução em até 95% do volume contido no tanque, transformado num efluente líquido de grande poder fertilizador (biofertilizante) e gás metano (biogás), que é transportado por uma tubulação até chegar ao fogão de uso doméstico. “A matéria orgânica que não foi aproveitada é levada para outro filtro anaeróbio, onde mais bactérias geram, ao final, uma água rica em nutrientes que irá alimentar as raízes das plantas numa zona específica”, explica o engenheiro químico.
Comunidades carentesAndré apresentou o exemplo de uma comunidade de baixa renda do município, onde foram construídas mini-estações de biodigestores com mão-de-obra local, o que possibilitou a abertura de novos postos de trabalho e fez com que os moradores se integrassem ao projeto. O primeiro sistema, implantado em 2003 com investimento de R$ 20 mil, coleta o esgoto de aproximadamente 70 famílias e o transforma em biogás, para atender uma creche comunitária, onde são servidas refeições para 25 crianças.
“Não há nenhum tipo de cobrança aos usuários, que desse modo, podem economizar o dinheiro que usariam na compra de um ou dois botijões para adquirir bens de consumo de primeira necessidade”, completou. A contrapartida exigida aos beneficiados, explica o técnico, é o comprometimento com a vigilância periódica do sistema, que inclui avisos quando houver a necessidade de manutenção da rede, por exemplo.
Na comunidade de Águas Lindas, em março de 2007 teve início a construção do sistema com quatro mini-estações paralelas, que ajudou a despoluir o Lago de Nogueira, cartão-postal da cidade. Após a implantação do projeto, o esgoto de mais de mil pessoas vem sendo tratado com o biodigestor, e o gás resultante é usado para a geração de energia em postes de iluminação pública. “Até o momento foram instalados quatro estações, mas outras dez estão em andamento no município”, acrescentou André.
O projeto de saneamento comunitário do Consórcio conquistou, em 2006, o 1º lugar na 5ª edição do
Prêmio Furnas Ouro Azul, na categoria empresa privada.
Desvantagens do sistemaUma das desvantagens é a manutenção periódica do sistema, com o recolhimento dos rejeitos primários que acompanham os efluentes domésticos, como folhas e galhos das calçadas, além de todo tipo de material não-orgânico depositado, que fica retido na entrada dos biodigestores. “Isso se deve em boa parte à falta de educação ambiental da população, que joga dentro do vaso sanitário todo tipo de lixo. Em Nogueira, por exemplo, a limpeza precisa ser feita dia sim, dia não”, ponderou André, durante o painel Gerenciamento de Resíduos Sólidos do
Seminário Nacional de Gestão Sustentável dos Municípios, que ocorreu entre os dias 26 a 28 de março na Pucrs.
(Por Adriana Agüero, Ambiente JÁ, 28/03/2008)