O relatório abaixo é do Bank Track, entidade organizada por ambientalistas com o objetivo de monitorar os negócios de empresas que afetam o meio ambiente:
A Aracruz é a maior produtora mundial de polpa de eucalipto, 27% do total. A companhia tem três fábricas e produz 3 milhões de toneladas de polpa por ano. No total, a Aracruz tem uma área de quase 280 mil hectares de plantações industriais e mais cerca de 90 mil hectares contratados de fazendeiros. A Aracruz tem sido criticada especialmente pelas relações ruins com os povos indígenas, as comunidades rurais e os quilombolas, além de outras comunidades locais. A companhia também é responsável pela destruição florestal e por plantar monoculturas em áreas protegidas.
Companhias envolvidas
A Aracruz está listada no iBovespa. Os principais acionistas são o grupo Safra (Brasil, 28%), o grupo Lorentzen (Noruega, 28%), o grupo Votorantim (Brasil, 28%) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES (12.5%)
Instituições financeiras envolvidas
Banco Itaú, Banco Safra, Banco Votorantim, Citigroup, JPMorgan Chase, BNDES, Banco Europeu de Investimento, International Finance Corporation (IFC) e Banco Nórdico de Investimento.
Violação dos direitos da terra
A companhia tem um história controversa devido aos conflitos por terra com comunidades indígenas, comunidades quilombolas e agricultores locais. A Aracruz se envolveu com ataques violentos e foi responsável por uma campanha agressiva contra povos indígenas. Apesar disso, em agosto de 2007, depois de 30 anos, os tupiniquins e guaranis ganharam sua disputa de terra com a Aracruz, quando o ministro da Justiça, Tarso Genro, assinou dois decretos considerando 18.070 hectares de terra no Espírito Santo como pertencentes aos povos indígenas. Os outros conflitos de terra permanecem sem solução.
Destruição da floresta
A Aracruz é responsável pela destruição de mata Atlântica para suas plantações nos anos 70. A companhia também foi recentemente multada pelo IBAMA por plantar árvores em áreas de proteção.
Em anos recentes, a Aracruz expandiu as suas operações além do Espírito Santo. Em 2000 a Aracruz entrou numa joint venture com a Stora Enso para fazer plantio de eucaliptos e construir uma fábrica na Bahia. A fábrica de Veracel, a maior do mundo, com produção de 900 mil toneladas por ano, começou a funcionar em junho de 2005. A Veracel derrubou florestas e mais de 800 pessoas tiveram que deixar suas casas. Muitos outros deixaram a área por falta de empregos no plantio ou na fábrica.
Falta de sustentabilidade no plantio
Em 1999 a Aracruz pediu o certificado do Forest Stewardship Council (FSC), que poderia ser o primeiro indício de que os plantios da empresa eram "bem gerenciados." Mas o certificado nunca foi concedido, um claro indício de que o gerenciamento da Aracruz não garante plantio socialmente e ambientalmente responsável.
Em 2003 a Aracruz comprou as operações da Klabin no Rio Grande do Sul, que incluíam 40 mil hectares de florestas com certificação FSC. Três anos depois a Aracruz decidiu voluntariamente desistir do certificado, aumentando a controvérsia que cerca os conflitos de terra em que a companhia está envolvida.
Engenharia genética
A Aracruz atualmente faz pesquisa com árvores geneticamente modificadas. A companhia tem uma política que diz que a "Aracruz Celulose acredita que as espécies geneticamente modificadas podem trazer benefícios à sociedade através do desenvolvimento sustentável."
Problemas ambientais
Os eucaliptos de rápido crescimento da Aracruz já causaram sério impacto ambiental na água, no solo e na biodiversidade. Água foi poluída, córregos e solo secaram como resultado das plantações em larga escala. Através do uso de enormes quantidades de fertilizantes químicos, de pesticidas e de agrotóxicos no eucalipto, uma planta não nativa, a Aracruz é responsável pela poluição do solo e da água e por afetar a saúde de comunidades locais que dependem de fontes d'água para consumo. Rios e córregos secaram por causa de plantações de eucalipto da Aracruz. A companhia construiu diques e desviou água do rio Doce para suas usinas, causando impacto nos rios da região. A pesca desapareceu de muitos rios. A água permanece poluída por herbicidas e pesticidas usados nas plantações.
Suspensão da reforma agrária
Os planos de expansão da Aracruz ignoram pressão política por reforma agrária e pela produção de alimentos. Em algumas regiões a demanda por terra para plantações da Aracruz levou à suspensão do processo de reforma agrária.
Status e dezembro de 2007
A Aracruz expandiu suas operações em 1,3 milhão de toneladas desde 2000 e tem novos planos de expansão. A companhia recentemente submeteu um plano de impacto ambiental às autoridades do Rio Grande do Sul para produzir mais 1,3 milhão de toneladas de polpa em Guaíba.
A nova usina aumentaria os problemas ambientais e sociais existentes. As grandes plantações de monocultura causam sérias consequências e somam aos problemas sem solução que concernem à violação dos direitos à terra, ao processo de concentração de terra, à extinção da agricultura de pequena escala, ao desenvolvimento não sustentável e à poluição ambiental.
A Veracel, joint venture da Aracruz-Stora Enso, também planeja dobrar a capacidade de sua fábrica de polpa que produz 900 mil toneladas por ano na Bahia. Isso vai exigir uma nova área para plantio de eucaliptos. O problema dos direitos de uso da terra serão exacerbados em um momento em que as disputas com comunidades quilombola do Espírito Santo e da Bahia ainda não estão resolvidos. A Aracruz não dá sinais de que está preparada para reconhecer esses direitos.
O que deve acontecer...
Os bancos internacionais deveriam evitar empréstimos para a construção de outra grande usina de processamento de polpa ou de novas plantações da Aracruz, seja na expansão da companhia no Rio Grande do Sul, seja na joint venture Veracel, da Bahia.
(Por Blog do Azenha/Diario Gauche, 27/03/2008)