É a primeira vez que se reúne numa mesma obra informações sobre tantas espécies em risco, por causa da caça, tráfico, desmatamento e destruição de seu habitat, principalmente. Desde 2000 a belíssima ararinha-azul não é mais vista no seu habitat, as florestas do Brasil: foi extinta da natureza. Restam apenas dez exemplares, em cativeiro. Ela compõe a lista de espécies em situação crítica que o biólogo Sávio Freire Bruno apresenta no livro “100 animais ameaçados de extinção no Brasil – E o que você pode fazer para evitar”, que a editora Ediouro acaba de lançar.
Alguns desses animais foram descobertos há menos de dez anos, como o soldadinho-do-araripe (CE), o guigó-de-sergipe (SE), e outros que ainda são praticamente desconhecidos do grande público, como o cachorro-do-mato-vinagre e o gato-palheiro. Mas já estão ameaçados de extinção, antes que se saiba mais sobre o seu comportamento, o que é fundamental para a preservação.
Na obra, o biólogo dedica até duas páginas para cada animal pesquisado, com informações sobre características físicas, curiosidades, hábitos, habitat e os motivos que os colocaram na lista de risco de extinção. Ele faz uma classificação que identifica o nível de ameaça atual.
Traz também informações sobre as ONGs que atuam no combate à extinção de cada um dos animais. Com isso o leitor pode conhecer trabalhos vitoriosos de preservação, conquistados na maioria das vezes com poucos recursos ou com recursos próprios, mas com muito engajamento de biólogos, fotógrafos e naturalistas brasileiros.
Atitudes a tomar
O autor explica muitas atitudes que as pessoas podem tomar para evitar o tráfico, o desmatamento, as construções desordenadas e a aprovação de obras públicas que não levam em conta os animais que habitam uma determinada região. Sávio Freire Bruno, o autor, é biólogo com mestrado em Ciência Ambiental pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e doutorado em Medicina pela Tierärztliche Houchschule Hannover, Alemanha. Ele coordena o Setor de Animais Selvagens na Faculdade de Veterinária da UFF.
Como ecólogo, concentrou-se no estudo de animais ameaçados e no ambiente em que vivem. Quando retornou da Alemanha, após quatro anos, em 2000, passou a dedicar esforços para a conservação do pato-mergulhão, no Parque Nacional da Serra da Canastra, em Minas Gerais.
”Na elaboração do livro, nos demos conta de que, na realidade, sequer existiam disponíveis, imagens relativas à maioria dos animais ameaçados. O livro reúne cem espécies oficialmente ameaçadas, com textos e imagens da melhor qualidade, jamais publicadas em uma só obra”, afirma.
O Ministério do Meio Ambiente, através do Ibama e o recentemente criado Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) publicam uma lista de espécies ameaçadas de extinção a cada cinco anos. Na lista de 2003, que é a atual, constam 395 espécies, entre mamíferos, aves, répteis, anfíbios, insetos e invertebrados terrestres.
Nesta lista, foram posteriormente incluídos os peixes e invertebrados aquáticos, totalizando 627 espécies, mas uma nova relação está em vias de ser elaborada, acrescenta Bruno. Segundo ele, todos os estados brasileiros apresentam espécies ameaçadas, sendo que as espécies em situação mais crítica encontram-se na Mata Atlântica, do Ceará até o Rio Grande do Sul.
Destruição do habitat
Entre as causas da ameaça à conservação de tantas espécies, ele aponta o tráfico de animais silvestres e a caça ilegal. “Mas nada se compara à destruição do habitat, seja pelo crescimento desordenado das cidades, pela expansão agropecuária ou qualquer outra causa”, destaca. Ele alerta que há “um grave e crescente processo de desertificação” em regiões que antes eram garantia de sobrevivência de animais e seres humanos.
“Podemos dizer que uma espécie como a ararinha-azul pode ser um símbolo atual do que a intervenção humana é capaz. Esta espécie não é mais vista na natureza desde 2000. Mas de fato, o que está ameaçada mesmo é a vida da forma que concebemos, pois o desaparecimento de tais espécies reflete o desequilíbrio e a perda da diversidade biológica que assola o planeta como um todo”, adverte o pesquisador.
Porém, existem esforços para salvar estas espécies, há muitas pessoas comprometidas com a reversão desse quadro, destaca. Neste sentido, afirma, qualquer ação voltada ao real exercício da cidadania e ao cumprimento da Constituição no que se refere ao Meio Ambiente é positiva. “O aprofundamento da crise ambiental que vivemos nos remete a uma reflexão: o modelo adotado para o que denominamos progresso é coerente? Não é uma questão de lutar só por eles (os animais em extinção) e sim lutarmos para que a vida na Terra não seja retalhada de forma abrupta por ações humanas no decorrer da sua história”, conclui.
Livro: 100 animais ameaçados de extinção no Brasil - E o que você pode fazer para evitar
Editora: Ediouro
Autor: Sávio Freire Bruno
Organização: Pedro Almeida
Nº de páginas: 144
Preço: R$ 39,90
(Por Ulisses A. Nenê, EcoAgência, 31/03/2008)