Rússia e Egito finalmente assinaram um acordo para impulsionar a cooperação no desenvolvimento de energia nuclear civis após anos de negociações diplomáticas. O convênio foi assinado esta semana, durante a visita do presidente egípcio, Hosni Mubarak, a Moscou. Espera-se que este ano seja anunciada a licitação para a construção da primeira central nuclear do Egito, com custo estimado em US$ 2 bilhões. O Egito prevê construir outras três usínas atômicas com capacidade total de 1.800 megawatts, para cobrir suas necessidades energéticas e diversificar as fontes para tornar mais duradouras suas reservas de hidrocarbonos.
A Rússia, que tenta impulsionar setores de alta tecnologia em várias partes do mundo para reduzir sua dependência das exportações de gás e petróleo, se mostrou interessada em construir uma usina nuclear no Egito. O acordo foi assinado pelo chefe da empresa estatal de energia nuclear Rosatom, Sergei Kiriyenko, e pelo ministro egípcio de energia, Hassan Younis. Além disso, o convênio prevê a capacitação em instalações atômicas egípcias e o fornecimento de combustível nuclear.
A estatal russa especializada na exportação de serviços e equipamentos nucleares Atomstroyexpoort constrói cinco centrais na China, Índia e no Irã por US$ 4,5 bilhões. Também venceu uma licitação para construir outra em Belene, na Bulgária, e negocia a instalação de outras centrais no Marrocos, Vietnã e África do Sul. Também existe um projeto-piloto para criar uma zona industrial russa no Egito, segundo uma fonte do Kremlin. Por sua vez, o Cairo ofereceu a empresas russas taxas preferenciais para reforçar seus setores automobilísticos e de aviação.
“A Rússia se prepara para ajudar muitas outras nações africanas a resolver seus problemas de energia e de alta tecnologia de forma gradual”, disse à IPS um porta-voz da Agência Federal Nuclear, que supervisiona os projetos do governo na matéria dentro e fora de fronteiras, ao fechamento da cerimônia de assinatura do acordo. “As freqüentes visitas de líderes africanos destacam a existência de uma grande variedade de possibilidades econômicas de cooperação e desenvolvimento entre os dois continentes”, disse à IPS a chefe do Grupo de Embaixadores Africanos, Melrose Kai-Banya, em Moscou.
As negociações também confirmam a preparação da Rússia para o fortalecimento das relações bilaterais mediante o uso da energia nuclear com fins pacíficos, acrescentou. “A visita de Mubarak significa maior desenvolvimento das relações tradicionais entre Rússia e Egito e também entre os dois líderes”, disse à IPS Vladimir Shubin, do Instituto de Estudos Africanos, com sede na capital russa. “O fato demonstra novamente a intenção da Rússia de ampliar os vínculos com diferentes continentes e regiões”, acrescentou.
O Egito está no centro do mundo árabe e é uma nação africana com uma importância internacional que não pode ser subestimada, disse Shubin. Rússia e Egito também tiveram coincidências em assuntos delicados como a situação na Palestina, a intervenção militar norte-americana no Iraque e a tensão pelo dossier nuclear do Irã, acrescentou. O Cairo manteve bons vínculos com a extinta União Soviética graças aos quais no final dos anos 50 foram realizados vários projetos de desenvolvimento, incluída a construção da represa de Aswan.
O acordo “abre novos horizontes para a cooperação bilateral”, disse o presidente russo que está deixando o cargo, Vladimir Putin, em declarações à imprensa após a reunião com Mubarak. “O Egito é um dos sócios estratégicos da Rússia. Nossa relação é ampla e inclui questões políticas e econômicas. Continuaremos desenvolvendo nossos laços econômicos”, acrescentou Putin. Mubarak é ex-piloto treinado no Quirguistão que estudou na Academia Militar Soviética em Moscou na década de 60.
(Por Kester Kenn Klomegah, IPS, Envolverde, 29/03/2008)