Com os meios de transporte representando uma significativa e crescente fonte de gases do efeito estufa, os governos ao redor do mundo estão procurando introduzir políticas para estancar as emissões. Uma solução muito popular, adotada por países como o Brasil, é substituir os combustíveis fósseis, como petróleo e gás, por biocombustíveis, produzidos a partir de plantas vegetais. Como o dióxido de carbono (CO2) liberado na queima do biocombustível se equivale ao que foi absorvido pela planta durante sua fase de crescimento, não haveria a emissão de mais gases para a atmosfera além daqueles que seriam liberados naturalmente pelo processo de decomposição da planta.
Mas, se chegaram a ser vistos como saída para combater o aquecimento global, os biocombustíveis neste momento estão sob ataque intenso, e a União Européia já analisa até a possibilidade de proibi-los.
- Até poucos anos, o etanol aparecia como a grande solução. Mas se converteu no oposto, numa alternativa que em nada contribuirá para mitigar as mudanças climáticas - disse recentemente Anderes Wijkman, membro sueco do Parlamento Europeu.
Muitos cientistas temem que a introdução dos biocombustíveis em larga escala possam trazer mais problemas do que aqueles que irão eventualmente resolver. Os principais biocombustíveis disponíveis são o biodiesel e o bioetanol. O primeiro é derivado de óleos de plantas como mamona, soja, girassol e algodão, enquanto o bioetanol é produzido a partir da cana-de-açúcar, beterraba, milho, trigo e cevada.
Como quase todo o biocombustível produzido no mundo vem de plantas usadas também como comida, há preocupações óbvias sobre a oferta e os preços dos alimentos. Efeitos potencialmente danosos para o ambiente também estão se tornando aparentes. Substituir savanas e florestas por imensas lavouras de um único produto poderia acabar com a biodiversidade devido à decrescente variedade de plantas e espécies de animais daquele ecossistema. A agricultura intensiva também exigiria uma irrigação extensiva, aumentando as pressões sobre as fontes de água em muitas regiões. Uma grande demanda pela aplicação de fertilizantes teria impacto de muitas maneiras, inclusive no aumento das emissões de óxido nitroso - um potente causador do efeito estufa.
A fabricação de fertilizantes para essas lavouras, por outro lado, geraria emissões adicionais (e crescentes) de gases do efeito estufa. Emissões subseqüentes aumentariam por conta da queima de combustíveis fósseis para o plantio, o transporte e o processamento da planta usada para produzir biocombustíveis.
Mas talvez a maior preocupação sejam as emissões de gases do efeito estufa que ocorrem quando ecossistemas naturais, especialmente as florestas tropicais, são destruídos para dar lugar a lavouras. Uma série de estudos publicados recentemente pela revista científica Science mostrou que grandes volumes de dióxido de carbono armazenados nas plantas e no solo são liberados durante o processo de queima e limpeza da área. Isso cria uma "dívida de carbono" inicial, que exigiria muitos anos de cultivo de plantas para biocombustíveis para contrabalançar. No pior cenário - as lavouras para a produção de biodiesel avançando sobre áreas florestais - levaria 423 anos para a dívida ser resgatada.
Por enquanto, essas advertências não estão impedindo que os governos ofereçam subsídios e estabeleçam metas de produção para estimular o mercado de biocombustíveis. A própria União Européia fixou uma meta de abastecer com biocombustíveis 5% seus países-membros até 2010.
Contudo, os planos para atingir 10% até 2020 estão sendo revistos, mais devido a questões de mercado do que ambientais. Nos EUA, a meta é de que os biocombustíveis representem 15% do total de combustíveis até 2022.
(Graphic News/DC,31/03/2008)