Dentro de dois anos, a distribuidora de gás natural em Santa Catarina, SCGás, estará entregando todo o combustível boliviano contratado através da Petrobras. Atualmente, o consumo do Estado está em 1,65 milhão de metros cúbicos dos 2 milhões de metros cúbicos a que a empresa tem direitos de distribuição.
Para assegurar a oferta, técnicos da empresa desenvolvem vários projetos, numa tentativa de reduzir a dependência do gás boliviano.
Segundo o presidente da SCGás, Ivan Ranzolin, uma das saídas para atender o crescimento da demanda e garantir o abastecimento será através da compra de gás natural liqüefeito, com a instalação de uma usina de regaseificação ou no porto de São Francisco do Sul ou em alto-mar, na costa do município.
Segundo ele, a Petrobras já acenou com a possibilidade de o terceiro píer desta natureza ser instalado em Santa Catarina. Os outros dois são no Ceará e Rio de Janeiro e garantem a regaseificação de 12 milhões de metros cúbicos por dia.
Outro projeto da SCGás prevê o aproveitamento do gás natural queimado na plataforma de petróleo localizada a 150 quilômetros de Itajaí. Para isso, seria necessária a construção de uma tubulação submarina ligada ao gasoduto da empresa já existente no continente.
- Levamos o projeto para a Petrobras. Estamos fazendo todos os esforços possíveis, porque temos que continuar vendendo gás. Pagamos pelos 2 milhões de metros cúbicos diários. Mas este volume está com os dias contados. Em dois anos, já estaremos no nosso limite - explica.
Os projetos mais recentes, a ligação com Pomerode e com a Ilha de Santa Catarina consumiram parte dos últimos investimentos realizados, cerca de R$ 238 milhões. Para 2008, estão previstos mais R$ 56 milhões para ramais ligando Joinville e Guaramirim ( já em obras), a tubulação de Palhoça (atrasada), e o projeto que vai cobrir a Serra Catarinense, passando por Rio do Sul, Otacílio Costa e Lages.
- Estamos confiantes no contrato com a Petrobras. O governo boliviano não tem saída, vão vender para quem? - indaga.
Países como o Japão utilizam apenas gás natural liqüefeito, mas lá pagam uma quantia maior pelo milhão de BTU (unidade de medida do gás natural), quase US$ 10, enquanto da Bolívia, o Brasil paga cerca de US$ 6 o milhão de BTU.
- Nosso principal problema é a falta de recursos para investir. Gasodutos são caros. Estamos investindo pesado nos clientes residenciais e comerciais, por isso a tubulação na Ilha de Santa Catarina é o nosso principal aporte este ano - garante Ranzolin.
Apesar das idéias e projetos da SCGás para reduzir a dependência do gás natural boliviano, a Petrobras não é nada otimista com relação ao combustível produzido no Campo Coral, no litoral catarinense, a 150 quilômetros da costa de Itajaí. E tampouco garante que o terceiro píer de gás natural liqüefeito será instalado no Estado.
Segundo a Petrobras, atualmente, não existem campos de gás natural em Santa Catarina, apenas o campo de óleo de Coral, com pequena produção de gás associado, que não é escoado até a terra devido a sua baixa economicidade, sendo aproveitado apenas para geração de energia na plataforma. Novos campos de óleo, como Tubarão e Estrela do Mar, iniciarão a sua produção até o ano de 2015, e se encontra em fase de estudos na Petrobras e viabilidade do aproveitamento de sua produção de gás natural.
Em dezembro de 2007, a reserva de gás natural no país era de 336 bilhões de metros cúbicos. E as perspectivas são bastante otimistas com as recentes descobertas de megarreservas. A Petrobras estima, para Tupi, um volume recuperável entre 5 e 8 bilhões de barris de óleo equivalente. Para Júpiter, no entanto, a estatal garante que ainda é cedo para previsões.
Com dois píeres instalados no Nordeste para a recepção de GNL e sua posterior regaseificação, técnicos da Petrobras vieram ao Estado, no final do ano passado, e mostraram que existe viabilidade para desenvolver o projeto em Santa Catarina.
Entretanto, a Petrobras explica que ainda está em estudos a localização do terceiro píer de GNL e não antecipa se será no Estado. Se for viabilizado, vai garantir a compra de GNL de vários fornecedores mundiais, a preços mais competitivos do que o gás boliviano. Com relação aos biocombustíveis, o Conselho de Administração da estatal aprovou no início de março a criação de uma empresa, subsidiária integral da Petrobras, para conduzir as atividades. Atualmente, essas atribuições estão dispersas em diversas áreas da companhia e subsidiárias, o que dificulta a gestão.
A nova empresa absorverá a produção de etanol, a aquisição de insumos e processamento de biodiesel, hoje executados diretamente pela Petrobras, além dos investimentos futuros. A criação dessa empresa tem por objetivo coordenar todas as atividades da cadeia produtiva de biocombustíveis com atuação no Brasil e no exterior.
A comercialização e logística de etanol e biodiesel no Brasil e exterior será mantida na área de abastecimento. O Plano Estratégico da companhia estabelece a atuação global, na comercialização e logística de biocombustíveis, liderando a produção nacional de biodiesel e ampliando a participação no negócio etanol, com previsão de investimento de US$ 1,5 bilhão até 2012.
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Diário Catarinense, 30/03/2008)