Na metade da safra do camarão os pescadores ainda estão esperançosos com o aumento na quantidade do pescado na Laguna dos Patos. A água salgou tarde e o crustáceo demorou a chegar ao tamanho esperado. A Semana Santa demonstrou que o consumidor está em busca do pescado, mas a oferta é pequena em relação aos anos anteriores. A data limite é 31 de maio. Porém, a expectativa do Sindicato dos Pescadores da Colônia Z-3 é conseguir esticar o período da safra até os primeiros dias de junho.
Segundo o presidente do Sindicato, Nilmar da Conceição, algumas embarcações nem procuraram o pescado ainda. Para obter lucro, uma noite na Laguna dos Patos deveria render no mínimo cem quilos de camarão. O principal inimigo pelo alto custo da pesca é o botijão de gás, pois o lampião conduz o crustáceo até a rede. “Muitos pescadores não querem arriscar e pegar 20 ou 30 quilos. O tamanho está bom, acima de nove centímetros, mas a quantidade é o principal problema”, destacou. Grande parte dos 800 pescadores licenciados está procurando tainha, mas a quantidade também não empolga.
Na Cooperativa Lagoa Viva, com 430 dos 1,3 mil pescadores da comunidade, o estoque foi praticamente esgotado na Semana Santa. Conforme o diretor Rudinei Rodrigues da Silva, o custo de manter a embarcação na água é o maior empecilho. “Nós compramos camarão por causa da procura da Sexta-feira Santa. O preço está razoável e a procura intensa, mas não temos mais muito produto”, informou.
Empréstimos
Os empréstimos preocupam grande parte dos trabalhadores. Muitos retiraram dinheiro apostando na boa safra e aguardam uma reviravolta. Aos 62 anos, sendo 53 dedicados à pesca, Ademir Afran disse acreditar não valer a pena fazer financiamento. “Se acontece como agora, com a safra ruim, temos que nos apertar para pagar”, argumentou. A experiência ensinou ao pescador que quando a água salga tarde a safra é pequena. “Não tem muito tempo para crescer. Em seguida a água esfria”, explicou.
Na embarcação ancorada mais adiante, o pescador Aílton Oliveira, não fez empréstimo por ainda pagar o financiamento do ano anterior. Mas reclamou da concorrência, com muitos barcos disputando espaço na Laguna e a falta de tripulação. “Os meninos estão largando a pesca e indo estudar. Não condeno, acho que estão certos. Mas quem fica precisa de homens para trabalhar”, destacou.
Z-1
Grandes embarcações estão saindo da Z-3 em busca de camarão. A maior parte é das cidades de Rio Grande e de São José do Norte. Na Colônia de Pescadores Z-1 em Rio Grande os trabalhadores compartilham a mesma opinião de Pelotas. “A safra está longe de ser considerada boa. Na barra de Rio Grande tem muita quantidade, mas miúdo. Não tem valor”, disse o presidente da Z-1 Hilário Borges.
Conforme Borges, não teria motivo para o camarão não crescer o suficiente, pois teria tido calor suficiente. Mesmo com a demora da entrada da água salgada, isso não deveria ter atrapalhado. A aposta está nos últimos dois meses de safra.
(Por Anna Fernandes, Diário Popular, 31/03/2008)