Trabalho dos criadores amadores vai além de cuidar dos animais
Canoas - Manter aves em cativeiro, autorizadas pelo Ibama, pode significar sobrevivência para algumas espécies, como o Bicudo (Oryzoborus maximiliani), Curió (Oryzoborus angolenis) e o Cardeal Amarelo (da família Passeridae). O criador Joivile Machado da Silva, 54 anos, morador do bairro Rio Branco, considera o trabalho um ato fundamental à preservação da natureza. “Muitas espécies só não foram extintas graças à criação de amadores. Uma ave de cativeiro pode durar até 30 anos, o que na vida silvestre dificilmente passaria de 20”, afirma o proprietário do criatório Tangará, no bairro Harmonia.
Presidente da Associação Ornitológica Canoense (Assocan), Silva diz que o trabalho dos criadores amadores vai além de cuidar dos animais. “Buscamos que a raça seja melhorada, selecionando os melhores para participar de torneios de canto e fibra além da reprodução.” A paixão por pássaros, segundo ele, já deixou de ser hobby para tornar-se uma luta constante pela preservação das espécies que beiram a extinção. “A nossa missão é plenamente cumprida quando temos hoje, no Rio Grande do Sul, essas aves, que são encontradas esporadicamente na natureza”, observa o representante comercial, que cria aves desde a infância e possui hoje mais de 100 animais de diferentes espécies.
Até a década de 1980, Silva lembra que era normal as pessoas terem pássaros em gaiolas. “Para garantir a saúde dos animais, o Ibama passou a controlar a criação por meio da distribuição de anilhas (metal acoplado à perna do pássaro para registro). O monitoramento das espécies é feito hoje via Internet. Cada criador pode registrar por ano 50 novas aves”, explica.
Com o crescimento do desmatamento, Silva diz que o habitat natural destes bichos está diminuindo muito. “Sem espaço próprio, as espécies procriam na cidade, em busca de alimento. Isso favorece a ilegalidade, pois as aves nativas acabam caindo na mão do tráfico clandestino de pássaros.” Configurado crime ambiental, o Ibama faz a apreensão das espécies e aplica multas que variam de R$ 500 a R$ 5 mil conforme a espécie.
Segundo Silva, o Rio Grande do Sul conta com 10 mil criadores amadores registrados pelo Ibama. Em Canoas, a Assocan contabiliza 250 criadores legais e pelo menos 500 sem registro. “Reunimos os criadores com o intuito de fazer torneios na cidade. O contato possibilita a troca de experiências sobre técnicas e métodos para a criação de pássaros. Nosso lema é criar e preservar, combatendo a ilegalidade”, observa o presidente da entidade.
(Diário de Canoas, 28/03/2008)