No dia cinco deste mês, AmbienteBrasil publicou a reportagem De como a legislação brasileira precisa avançar – Parte Um, mostrando a dificuldade da Hervy, tradicional fabricante de bacias sanitárias, em aprovar um de seus produtos – a bacia Twister, que funciona com o dispêndio de apenas 4,8 litros de água.
A empresa Tesis – Tecnologia de Sistemas em Engenharia -, citada na matéria, enviou uma mensagem com informações bastante esclarecedoras sobre o funcionamento de bacias sanitárias.
“Não adianta diminuir o volume de funcionamento das bacias sanitárias se estas não apresentarem desempenho adequado. Para exemplificar, podemos citar a experiência dos Estados Unidos no início da década de 90”, disse a AmbienteBrasil a engenheira Maria Cristiana Guimarães, do laboratório Tesis.
“Este país diminuiu o volume de água das bacias sanitárias de aproximadamente 13 litros para 6 litros e não avaliou adequadamente o desempenho delas. Tal fato gerou um consumo ainda maior de água, em função da necessidade de dar mais de uma descarga para remoção dos dejetos e da ocorrência de entupimentos e obstruções”, explica.
Segundo ela, a avaliação do desempenho das bacias sanitárias de volumes reduzidos requer métodos de ensaios específicos, para torná-las mais eficientes e econômicas, o que demanda alterações hidráulicas dos produtos.
Além disto, para se estabelecer os requisitos de desempenho das bacias sanitárias com volume reduzido, é fundamental que se avalie os reais impactos provocados no sistema hidráulico predial e na rede pública de esgoto. “Nos Estados Unidos, a melhoria do desempenho das bacias de 6 litros só foi obtida, após alguns anos, com a incorporação de novos requisitos à normalização”, esclarece.
A engenheira diz ainda que os equívocos citados nos Estados Unidos geraram um grande problema no funcionamento das bacias sanitárias de 6 litros e uma grande insatisfação da população, a ponto dos americanos começarem a fazer importações de bacias sanitárias do Canadá, fabricadas nos Estados Unidos só para exportação (confira nota sobre esse movimento no final da matéria, publicada na revista Veja em abril de 2000).
Atualmente, todas as bacias sanitárias comercializadas no mercado brasileiro funcionam com 6,8 litros. Maria Cristiana diz que este trabalho tornou-se uma referência internacional: a indústria brasileira é conhecida pelo excelente desenvolvimento de bacias economizadoras e pela atividade de exportação deste produto para diversos países.
“Para que seja utilizado um volume de água inferior ao adotado atualmente, como por exemplo o volume de 4,8 litros (caso da bacia desenvolvida pela Hervy), é preciso avaliar o desempenho deste produto com ensaios específicos e conhecer o impacto deste produto na operação dos sistemas prediais e públicos de esgotos sanitários”, coloca a engenheira, lembrando que o fato dos Estados Unidos adotarem bacias sanitárias de 4,8 litros não quer dizer que o Brasil possa fazer o mesmo.
“Existem diferentes condições de projeto e operação dos sistemas brasileiros de esgoto com relação ao americano, como, por exemplo, os valores distintos adotados para as declividades mínimas das tubulações. Nos Estados Unidos, a declividade adotada é de 2%, o que facilita a remoção dos dejetos, enquanto que no Brasil esta declividade é menor (1%)”.
Ela antecipou a AmbienteBrasil que este ano será desenvolvido, no âmbito do Programa de Garantia da Qualidade para o Uso Racional da Água – Módulo Louça Sanitária, um estudo semelhante ao já executado em 2000, para avaliar uma redução ainda maior do volume de funcionamento das bacias sanitárias.
O Programa da Qualidade conta com a participação das principais empresas que fabricam louças sanitárias no Brasil (Deca, Fiori, Icasa, Ideal Standard, Monte Carlos, Hervy e Roca), ficando a gestão técnica a cargo da Tesis.
Por fim, ela diz que a Tesis é a favor da economia de água, da preservação dos recursos naturais e da sustentabilidade, “só que de forma responsável”.
“Temos uma responsabilidade com a sociedade brasileira e buscamos através do nosso trabalho diário garantir o desempenho adequado dos produtos da construção civil que são colocados à disposição dos usuários. Ressaltamos que não existem produtos sustentáveis ou ambientalmente preferíveis se estes não cumprem ao menos a função a que se destinam”.
(Por Mônica Pinto /
AmbienteBrasil, 31/03/2008)