Quem deveria dar o exemplo no combate ao mosquito da dengue não está fazendo o dever de casa: as coberturas dos prédios do antigo frigorífico da Cibrazem, na Zona Portuária, estão repletas de entulhos descobertos, propícios à formação de focos do Aedes aegypti. Os imóveis, que pertencem à Secretaria municipal de Cultura, ficam na Avenida Rodrigues Alves. Segundo a Secretaria municipal de Saúde, foram registrados na região, este ano, 624 casos da doença.
Síndico do condomínio Moradas da Saúde, que fica em frente ao local, o eletrotécnico Tarcísio da Cruz Leal conta que muitas reclamações sobre a situação já foram feitas aos órgãos públicos.
- O local está completamente abandonado. Freqüentemente, entramos lá para tentar diminuir, um pouco, o problema. Nós viramos caixas d'água velhas, furamos lajes para escoar água, perfuramos cisternas. Bravamente, tentamos eliminar alguns focos do mosquito. Mas aquilo lá é gigantesco, não temos como dar conta de tudo - reclama ele, afirmando que o condomínio que gerencia tem cem apartamentos. - A toda hora, recebo ligações de moradores que estão com os filhos doentes.
A transferência do complexo da União para o município foi pleiteada em 2001. Na época, a prefeitura pretendia transformar o local em um centro de artesanato, gastronomia e cultura.
Cesar desconversa
Indagado pelo EXTRA sobre o porquê de a prefeitura manter uma situação propícia à proliferação de mosquitos da dengue em um imóvel seu, o prefeito Cesar Maia foi evasivo. Por e-mail, se limitou a dizer que está em discussão "a Fundação Roberto Marinho assumi-lo para construir o Museu do Futuro". Perguntado se, enquanto isso, a manutenção do local não seria obrigação do governo municipal, Cesar apenas afirmou que solicitou a averiguação dos problemas apontados pelos moradores da região.
"É um imóvel público e, se a situação estiver mesmo como ele conta, temos que assumir a culpa"
Coordenador da Defesa Civil do município e do Centro de Comando de Operações contra a Dengue da prefeitura, coronel João Mariano garantiu que uma vistoria será realizada, hoje, nos imóveis.
- Iremos até o local e, se houver necessidade, faremos um trabalho de controle de vetores - afirmou o coronel, elogiando a iniciativa do síndico do condomínio. - É um imóvel público e, se a situação estiver mesmo como ele conta, temos que assumir a culpa. É importante que a população continue nos informando sobre casos como esses, para que possamos trabalhar de forma mais efetiva.
(Simone Miranda, Extra, 30/03/2008)