“Tinha geada de sair quebrando gelo com o pé.” Essa é uma das imagens que o engraxate Nivaldo Lopes dos Santos, 70 anos, guarda na memória quando se fala no “frio de verdade” que fazia em Curitiba. A percepção de que a cidade está mais quente não é apenas de Santos, que está todos os dias na Praça Tiradentes – é praticamente uma unanimidade. E não fica só na percepção: um estudo do Laboratório de Climatologia, do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), indica que a temperatura média na capital subiu 1,3°C desde a década de 1950.
“Observamos uma queda de temperatura do século 19 até a década de 1930, depois certa estabilização. A partir de 1950, houve uma tendência de elevação”, afirma o professor Francisco Mendonça, do Departamento de Geografia. “As mudanças foram mais incisivas nas temperaturas mínimas. Há desmatamento, industrialiação, densificação da massa construída e excesso de veículos.”
Para leigos, 1,3°C pode parecer pouco, mas não é o que dizem especialistas. “É como se mexêssemos em um fio de uma rede, que afeta a rede toda”, comenta Miriam Duailibi, presidente da ONG Instituto Ecoar, de São Paulo. Para se ter uma idéia, o IPCC (sigla em inglês que significa Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), da ONU, diz que a temperatura da Terra não poderá subir mais do que 2°C nos próximos 50 anos. Depois disso, o resultado poderá ser catastrófico.
O professor da UFPR Nélson Dias atribui a mudança mais a fatores locais do que ao chamado aquecimento global. “O aumento em Curitiba pode ser efeito de mais asfalto, mais prédios, mais carros e fontes de energia.”
Quem não quiser deixar um planeta semelhante a Mercúrio (onde as máximas chegam a 420°C) para seus netos pode tomar a iniciativa. “É preciso uma mudança nos padrões de consumo”, recomenda o engenheiro florestal e ambiental Marco Aurélio Ziliotto, da ONG Instituto Eco-Clima.
(
Gazeta do Povo, 31/03/2008)