Rajado de branco e preto, ele é o mesmo mosquito que transmite a febre amarela. A maneira mais eficiente de controlá-lo é eliminar seus criadouros, os famosos depósitos de águas paradas. Essas características do Aedes aegypti, transmissor da dengue, são conhecidas por boa parte da população brasileira.
Preocupada, no entanto, com a possibilidade de tais informações não estarem sendo assimiladas corretamente por moradores de cidades como o Rio de Janeiro, que atualmente enfrenta uma epidemia de dengue por conta, em parte, da não aplicação correta de medidas preventivas, a professora Hermione de Campos Bicudo, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), resolveu fazer sua parte.
Ela acaba de lançar o projeto Ação Comunitária para o Controle do Aedes aegypti, que tem como ferramenta principal uma página na internet, dentro do site do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (Ibilce), em São José do Rio Preto (SP), onde Hermione leciona no Programa de Pós-Graduação em Genética.
Na página encontram-se, além de informações e curiosidades sobre o mosquito, métodos preventivos de baixo custo, como o uso da borra de café ou o sal fino de cozinha, duas alternativas para criadouros em potencial que não podem ser completamente eliminados.
“A idéia é contribuir para a formação de agentes multiplicadores, de todos os setores da sociedade, interessados em se engajar na tarefa de difundir por que e como devemos combater o Aedes aegypti. Damos foco na prevenção, pois, na fase adulta, o mosquito tem características biológicas que tornam seu combate muito mais difícil”, disse Hermione, que há 20 anos desenvolve pesquisas com o mosquito, à Agência FAPESP.
O site do projeto contém um abrangente texto didático, escrito com base em resultados de estudos feitos no instituto, com explicações sobre a biologia do mosquito, suas principais características, como ocorre a transmissão do vírus e as formas de desenvolvimento do inseto, processo que dura, em média, sete dias e abrange quatro fases: ovo, larva, pupa e adulto. Também descreve particularidades dos criadouros e estratégias para combatê-los.
Recurso visualUma apresentação em Power Point, que pode ser baixada por qualquer interessado, com diversas imagens e um resumo das informações do projeto, também está no site. O material ajuda a repassar os conceitos a outros interessados.
O site destaca que o Aedes aegypti, que tem uma vida útil de cerca de 40 dias, tem características que lhe conferem grandes vantagens para sobrevivência. Sabe-se que as fêmeas do mosquito botam os ovos em águas paradas, mas o grande problema, segundo a professora da Unesp, é que os ovos podem se desenvolver mesmo em pequenos recipientes, como uma tampinha de garrafa.
“Mesmo que a água da tampinha seque, os ovos podem permanecer vivos por até um ano. Se a tampinha voltar a encher, podem ser desenvolvidos naquele pequeno espaço até 300 ovos de uma mesma fêmea. Além do mosquito se esconder no meio de uma grande variedade de espécies de plantas, uma tampinha também é um criadouro em potencial. O ovo do mosquito tem o tamanho de um ponto feito por uma lapiseira em um papel”, explicou.
Diferente da febre amarela, que já conta com uma vacina para seu controle, para a dengue – inclusive para sua forma mais severa, a hemorrágica – ainda não há vacina e nem tratamento específico, o que faz com que o índice de mortalidade seja elevado. Em 2007, cerca de 500 mil pessoas tiveram a doença no Brasil e pelo menos 250 morreram de dengue hemorrágica.
“Este ano, no Rio de Janeiro, já foram registrados mais de 50 mortes ocasionadas pela doença, sendo a maioria de crianças. Calcula-se que sejam infectadas 75 pessoas por hora naquele Estado, o que fez com que o governo decretasse uma epidemia. Até o fim do ano passado, a doença não tinha chegado ao Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Mas, hoje, está presente em todos os Estados brasileiros”, disse.
Mais informações: www.ibilce.unesp.br/dengue
(Por Thiago Romero,
Agência FAPESP, 31/03/2008)