Ceasa fica à mercê da infecção pelos ratos Na próxima sexta-feira, quando a Central de Abastecimento de Salvador (Ceasa) vai completar 35 anos de existência, o grande mercado vai exibir um quadro que existe desde a sua fundação: os catadores de alimentos estragados, pessoas que, todas as manhãs e final de tarde, se reúnem próximo aos galpões para dividir, entre si, as sobras de frutas, legumes e verduras.
São velhos, adultos e crianças que reviram as caixas de lixo e não se importam se os produtos estão estragados, misturados à lama ou roídos pelos ratos. “Por enquanto, ainda não morri”, diz um deles, Gilson Santos de Jesus, 39 anos, morador do bairro da Palestina, em Salvador, separando várias batatas-doces estragadas que iria levar para casa.
No último Censo do IBGE, feito em 2000, constatou-se que aproximadamente 2,5 mil crianças viviam no entorno da Ceasa. A maioria delas tinha como alimento diário as sobras de frutas e verduras jogadas fora pelos comerciantes. É exatamente dessa forma que faz até hoje a catadora Rosa Aquina dos Santos, de 61 anos, que cata verduras para os filhos e netos, moradores do bairro de Valéria. “O que para os outros está estragado, para nós é o almoço e o jantar”, diz.
Segundo explicou o presidente da Associação de Permissionários da Ceasa, Luiz Torres, há um projeto para cadastrar os catadores adultos e as crianças, para que possam trabalhar numa cooperativa de reciclagem, mas, por enquanto, essa perspectiva ainda está só no papel.
No último dia 22 de fevereiro, um protesto reuniu mães de adolescentes e crianças que trabalham como vendedores e catadores de produtos recicláveis na Ceasa, porque a empresa havia proibido a entrada dos jovens no local por conta de denúncias de exploração sexual. Revoltados, os adolescentes, acompanhados dos mais velhos, colocaram fogo em pneus e fecharam por meia hora dois trechos da rodovia CIA-Aeroporto, causando um congestionamento no tráfego de mais de três quilômetros.
Doenças – Os ratos são uma das principais fontes transmissoras de doenças ao homem, através do contato direto (mordedura) ou da contaminação indireta, através da urina e fezes em alimentos e água. Dentre as principais doenças está a leptospirose, causada pela bactéria leptospira, que é eliminada pela urina do rato. Em contato com a água, o solo e os alimentos, transmite a doença, considerada grave. Os sintomas são fraqueza, dor no corpo, dor de cabeça e febre, muitas vezes confundida com gripe. No estado mais grave, a doença provoca insuficiência renal, hemorragias, podendo levar à morte. Já a peste bubônica é transmitida ao homem pela picada da pulga de ratos infectados pela doença.
Há ainda a febre tifóide (transmitida pelas fezes contaminadas da pulga do rato), cujos principais sintomas são dor de cabeça súbita, arrepios, prostração, febre e dores generalizadas; a salmonelose (transmitida por alimentos contaminados e fezes de ratos), com principais sintomas de diarréia, vômitos, febre e dores abdominais. Já o cólera é transmitido por ratazanas ou ratos de esgoto.
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A Tarde, 31/03/2008)