A problemática situação sanitária no sul do país acabou trazendo problemas para a produção do queijo. Fabricantes sofrem com queda das vendas após detecção da substância tóxica dioxina em alguns casos.
Primeiro afetada por um surto da doença infecciosa brucelose, que provocou o sacrifício de milhares de búfalos, a produção da famosa "mozzarela di bufala" foi agora abalada pela detecção da substância cancerígena dioxina. A Itália adverte contra uma neurose, mas os produtores estão preocupados. Países asiáticos, como a Coréia do Sul e o Japão, já suspenderam as importações do produto e analisarão os carregamentos recebidos em busca de rastros da substância.
Em vista disso, a Comissão Européia em Bruxelas não descarta a possibilidade de proibir totalmente a importação da mussarela de búfala da região da Campanha. Segundo uma porta-voz, as ações possíveis podem ir "desde medidas de proteção, como a retirada de produtos do mercado, até uma proibição total".
Problema sanitário
A especialidade, apreciada em todo o mundo, é exportada principalmente para a Alemanha, os Estados Unidos e a Suíça. Cerca de quatro quintos da produção, no entanto, são consumidos pelos próprios italianos. Desde o começo do ano, as vendas caíram entre 40 e 60%, tanto dentro quanto fora da Itália, informou a associação regional de trabalhadores da província de Caserta, no norte de Nápoles. Antes da crise, a renda anual obtida com o produto chegava a 300 milhões de euros.
"Em apenas dois meses, perdemos 30 milhões de euros. Se continuar assim, o setor vai quebrar", alerta a associação de fabricantes de mussarela da região napolitana. Cerca de 20 mil empregos dependem da produção do queijo, cuja denominação de origem (DOP) se situa nesta região.
As imagens dos montes de lixo acumulado nas ruas de Nápoles, que há meses se converteram em um sério problema sanitário e são conseqüência do conflito entre o governo e a máfia, rodaram o planeta e ocasionaram os primeiros danos ao queijo: temia-se que venenos como a doxina pudessem contaminá-lo. Mas o temor virou realidade. Recentes controles detectaram a presença de valores ao menos levemente elevados da substância, alarmando o país todo.
"Exagerado e inadequado"
Só depois de pressionado por Bruxelas, o Ministério da Saúde em Roma aceitou enviar os resultados das análises às autoridades comunitárias. Em 25 das 130 queijarias que produzem mussarela, foram detectados vestígios de dioxina em nível "levemente acima do limite". Como medida preventiva, foram fechados 83 centros de criação de búfalos na Campânia, ao mesmo tempo em que foram abertas investigações contra 109 pessoas.
Os valores máximos de dioxina permitidos pela União Européia em produtos alimentícios são muito baixos e medidos em picogramas (trilionésimos de grama). "Os índices não deveriam passar de três picogramas e, apenas em alguns casos, ficou um pouco acima", disse Paolo Sarnelli, superintendente veterinário da região da Campânia, tentando acalmar os nervos. "O alarde devido à mussarela é totalmente exagerado e inadequado", opinou o ministro italiano das Relações Exteriores, Massimo D'Alema.
(Deutsche Welle, 30/03/2008)