Cientistas e autoridades de várias partes do mundo vão se reunir na Tailândia, esta semana, para as primeiras conversações formais no longo processo de redação de um tratado que substitua o Protocolo de Kyoto, documento sobre mudanças climáticas mundiais, até o final de 2009.
Cerca de 190 países concordaram em Bali, no ano passado, em iniciar dois anos de negociações para redigir um pacto que substitua o Protocolo de Kyoto, que obriga apenas 37 países ricos a reduzir suas emissões de gases causadores do efeito estufa em 5 por cento, em média, até 2012, em relação aos níveis praticados em 1990.
Especialistas climáticos da ONU querem um novo pacto que imponha limites a todos os países, embora existam grandes divergências quanto a como o ônus da redução deve ser dividido entre os países ricos, liderados pelos EUA, e países em desenvolvimento, como China e Índia.
Não é provável que saiam decisões importantes das conversações em Bangcoc, que visam sobretudo fixar um cronograma para outras rodadas de negociações que culminem numa Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a ter lugar em Copenhague, no final do próximo ano.
"O desafio está em redigir um acordo futuro que intensifique significativamente as ações para a adaptação, interrompa o aumento nas emissões globais nos próximos 10 a 15 anos e garanta uma redução dramática das emissões até 2050", disse Yvo de Boer, chefe do Secretariado de Mudanças Climáticas da ONU.
As negociações provavelmente serão difíceis e tortuosas, mas uma série de relatórios da ONU sobre mudanças climáticas, no ano passado, destacou a urgência de serem reduzidas as emissões de gases como o dióxido de carbono, responsáveis pelo aquecimento do planeta.
Um relatório, em especial, disse que é mais de 90 por cento certo que ações humanas -- principalmente a queima de combustíveis fósseis -- são responsáveis pelas mudanças no clima mundial, que vão provocar mais ondas de calor, secas, tempestades fortes e a elevação dos níveis dos mares.
INDUSTRIALIZAÇÃO ACELERADA
Uma questão importante a ser tratada é a relutância dos grandes países em desenvolvimento, como Índia e China, em concordar com medidas que possam limitar sua industrialização acelerada. Os negociadores também terão que traçar um acordo com os EUA, único dos países ricos a não ter assinado o tratado de Kyoto, dado que o presidente George W. Bush vai deixar a Casa Branca após a eleição de novembro.
Os três principais candidatos presidenciais são mais abertos a questões ambientais que Bush e apóiam um sistema de limitação e troca que incentive as empresas a reduzir suas emissões de carbono. A ONU quer que o novo tratado esteja em vigor no final de 2009, para dar às empresas e aos investidores o máximo possível de conhecimento antecipado das mudanças que estão por vir, além de dar tempo aos Parlamentos nacionais para ratificar o acordo antes de 2012, quando o tratado de Kyoto chegará ao fim.
(Reuters, Estadão, 29/03/2008)