O protesto contra os empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) à Aracruz Celulose reuniu 600 pessoas no Rio de Janeiro nesta quarta-feira (26). Os manifestantes encontraram as portas do banco fechadas, após terem informado sobre o ato de repúdio, e não foram recebidos pela diretoria do BNDES. Mas foi formada uma comissão para avaliar o assunto, que se reunirá no próximo dia 4.
Os representantes de movimentos sociais ligados à Rede Alerta Contra o Deserto Verde, estiveram no centro do Rio de Janeiro, protestando contra o pedido de financiamento de R$ 1 bilhão feita ao banco pela Aracruz Celulose, para expandir seus plantios de eucalipto no Rio de Janeiro.
Apesar da truculência da recepção – tropa de choque da Polícia Militar que acarretou inclusive na detenção de um manifestante, e apreensão de um botijão de gás usado para fazer a comida dos ativistas – , os manifestantes conseguiram expressar seu repúdio diante da postura do banco e chamar a atenção de quem passava pelo local.
Para eles, o BNDES se tornou um banco quase exclusivo das transnacionais, deixando de lado as políticas voltadas aos produtores rurais, aos assentados da reforma agrária e à produção de alimentos produzidos de forma agroecológica.
Apesar do enfrentamento inicial, os manifestantes foram autorizados a realizar o ato público em frente à sede do banco, onde chegaram a entregar uma carta à direção do BNDES, já que a audiência prometida pelo banco para receber os ativistas foi cancelada.
Na carta, ressaltaram a indignação com os financiamentos partidos do banco às transnacionais do agronegócio e cobraram incentivos aos agricultores familiares e demais produtores do campo para a comercialização e industrialização de produtos feitos de forma cooperada, além do incentivo à produção agroecológica, que não destrói o meio ambiente.
O banco decidiu constituir um grupo de trabalho formado por técnicos do próprio BNDES e representantes de movimentos sociais do Rio de Janeiro e Espírito Santo, e prometeu uma reunião para o próximo dia 4 de abril. De acordo com a assessoria de imprensa do BNDES, o grupo técnico de trabalho quer criar uma rotina de reuniões periódicas permanentes para exame de propostas e soluções para os problemas que forem apontados pela Rede Alerta. O primeiro grupo deverá se dedicar à área de papel e celulose.
Participaram das manifestações no Rio de Janeiro os índios Tupinikim e Guarani do Estado, os quilombolas e representantes dos movimentos sociais do campo, como Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e Movimento dos Sem Terras (MST). Além de um crime contra a natureza, as plantações de eucaliptos acarretam inúmeras perdas, como comprovadas pelas próprias comunidades tradicionais capixabas, que sofrem ainda com a perda de sua identidade e tradições.
A Rede Alerta pretende ingressar com uma Ação de Inconstitucionalidade no Tribunal Regional Federal (TRF) do Rio de Janeiro contra a lei estadual que aprovou, no ano passado, o plantio de eucalipto em larga escala no território fluminense, de até 400 hectares contínuos, pela Aracruz Celulose. A expansão da plantação pela empresa estaria isenta do licenciamento ambiental, o que foi duramente contestado pelos manifestantes.
(Por Flávia Bernardes,
Século Diário, 28/03/2008)