As recentes intoxicações por agrotóxico em Santa Catarina abriram a discussão sobre o comércio e a regulação desses produtos no Brasil. Nesta semana, a menina Adriele Gonzáles de Melo, de 3 anos, morreu depois de ter a cabeça lavada com o pesticida Diazitop, para combater piolhos. O pesticida é altamente tóxico e é usado em plantações e para doenças de bovinos.
A presidente da Associação Brasileira de Centros de Informação e Assistência Toxicológica e Toxicologistas Clínicos (Abracit), Marlene Zannin, relata que houve um aumento dos casos de intoxicação em Santa Catarina. Nos últimos cinco anos, foram detectados 59 casos graves e, somente neste ano, o número chega a 18. Na sua avaliação, existe um excesso de substâncias tóxicas no mercado, comercializadas sem qualquer controle. O Diazitop, que causou a morte de Adriele, é fabricado pelo Laboratório Clarion e tem venda livre.
“Acho que se poderia aproveitar esse momento e fazer com que as autoridades da agricultura e da saúde revisassem a autorização de comércio de substâncias altamente tóxicas. Eu não preciso de muitos princípios ativos de agrotóxicos no comércio, não preciso de toda essa quantidade”, diz. O Brasil é o terceiro país do mundo que mais comercializa pesticidas. Para Marlene, a facilidade para regulamentação e autorização dos agrotóxicos no mercado atende aos interesses das empresas, muitas localizadas fora do país.
“O comércio de agrotóxicos é igual ao comércio de medicamentos, é o lucro. O lucro da indústria de agrotóxicos é altíssimo. Então, quanto mais princípio ativo você joga no mercado, quanto mais você comercializa, mais lucro”, argumenta. Marlene também pede mais atenção dos programas de saúde do governo às necessidades da população. Em todo o Estado, há relatos de famílias que usam agrotóxicos para matar piolhos por não encontrarem um produto adequado.
Procurado pela reportagem, o Ministério da Agricultura informou que não é responsável pela fiscalização do produto. Como o agrotóxico já estava no comércio a responsabilidade seria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Já a Anvisa afirma que a agropecuária que vendeu o pesticida estava regular, e que o caso foi de uso indevido.
(Por Patrícia Benvenuti, Agência Chasque, 27/03/2008)