Quadrilha de 35 pessoas destruiu últimas reservas florestais de TailândiaChegou ontem à Justiça a denúncia do Ministério Público do Estado do Pará (MPE) sobre o grupo de 35 pessoas, acusado de invadir a fazenda Uirá, no munuicípio de Tailândia, no Nordeste paraense, e desmatar mais de mil hectares de floresta nativa até então conservada pelo Instituto de Divulgação da Amazônia. Além dos crimes ambientais, a 'máfia dos sem-tora' vai responder judicialmente por roubo, esbulho e formação de quadrilha. Os denunciados são invasores, atravessadores e donos de serrarias. Dentre os alvos do órgão fiscalizador da lei, constam o madeireiro Rosenildo Gomes de Castro e Manoel Martins Chaves, conhecido como 'Primo', o qual está foragido e responde judicialmente por integrar o 'Grupo de Extermínio de Tailândia'.
A lista é grande e pode ser maior ainda, uma vez que a denúncia do MPE menciona que até 70 homens foram arregimentados para invasão pelos articuladores do grupo. Segundo o Ministério Público, os criminosos venderam a madeira ilegal para clientes de Estados São Paulo e Minas Gerais, usando para o transporte guias florestais originadas em um projeto de exploração florestal fraudulento, o qual já está sendo investigado também pela Polícia Federal.
As provas que serão usadas para sustentar a denúncia foram juntadas aos autos pelo representante da fazenda Uirá. Um dos documentos que servirão de base para o MPE é o processo de reintegração de posse que corre na Vara Agrária de Castanhal, não cumprida devido a falta de iniciativa das autoridades estaduais de segurança. Como evidências, existem ainda motosserras apreendidas na área desmatada e as declarações dos próprios invasores, além das testemunhas ouvidas pela autoridade policial.
A titular da 1ª Promotoria de Justiça de Tailândia, a promotora Ana Maria Magalhães de Carvalho, narra na denúnca que no dia 29 de janeiro de 2007, cerca de 80 homens, grande parte ainda não identificada pela polícia, invadiram de arma em punho a fazenda e dominaram os os empregados da propriedade.
Usando sempre de violência para impedir que os empregados da fazenda retomassem à área ocupada, serravam as árvores em toras e repassavam aos atravessadores, identificados como Edson 'Baixinho' e Edimar Vieira Alves. Seriam os dois que levavam a mercadoria até os donos de serrarias que patrocinavam,ordenavam e coordenavam toda a ação criminosa.
A área da fazenda foi também loteada pelos invasores e vendida a terceiros. Conforme os promotores relatam, a transação com as terras tinha 'clara finalidade de tentar mascarar os crimes que praticaram, dando-lhes a aparência de movimento social que luta pela reforma agrária'.
Grupo construiu ponte e estrada para escoar crimeA audácia do grupo criminoso está detalhada na denúncia que será oferecida à Justiça pelo Ministério Público do Estado do Pará. Os 'sem-tora' chegaram a destruir câmeras filmadoras, colocadas pelos proprietários da fazenda Uirá, ao longo da vicinal Jandira, via de acesso direto à área invadida. Depois de quebrar os equipamentos, queimar documentos e assaltar os funcionários da propriedade, o bando construiu um nova estrada para escoar os produtos florestais ilegais. A estratégia resultou em mais de cem caminhões carregados de madeira extraída, sem que a polícia importunasse os responsáveis pela operação.
O poderio do grupo era tanto que, para operacionalizar o crime ambiental, eles chegaram até a construir uma ponte, com estrutura suficiente para agüentar o peso dos veículos de carga. Na ponta do esquema, aponta a promotora de Justiça Ana Maria Magalhães de Carvalho, estão alguns donos de madeireiras de Tailândia, mentores e patrocinadores da ação criminosa. Os empresários teriam fornecido aos invasores de aluguel armas, munição, comida, cachaça, tratores, caminhões, contratação de motoristas, motosserras e demais equipamentos para desencadear os crimes.
(O Liberal,
FGV, 27/03/2008)