O Ministério Público do Pará denunciou à Justiça 35 acusados de integrar uma quadrilha que em menos de um ano destruiu as últimas reservas florestais de Tailândia, município hoje ocupado por 300 homens da Força Nacional de Segurança que combatem crimes ambientais na região. Conhecidos por "sem-toras", os acusados invadem terras, expulsam empregados das fazendas, derrubam as árvores e vendem a madeira para empresas clandestinas que atuam na região.
A fazenda mais visada pela quadrilha foi a Uirá, pertencente ao auditor aposentado da Receita Federal Armando Zurita Leão, que mantém em Tailândia uma área de floresta ainda intacta. Sob a mira de armas, os empregados da fazenda foram ameaçados de morte pelos invasores, que passaram a cortar as árvores preservadas pelo Instituto de Divulgação da Amazônia, entidade dirigida por Zurita.
Financiados por madeireiros ilegais, os "sem-toras" transportaram as árvores cortadas para o pátio de serrarias, onde foram transformadas em madeira de lei vendida para grupos de São Paulo e Minas Gerais. Uma parte da madeira transformada em lenha foi vendida a siderúrgicas de Marabá para produção do carvão vegetal que abastece os fornos de beneficiamento de ferro-gusa. A transação com essa madeira foi feita com a utilização de guias falsificadas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
A promotora Ana Maria Magalhães, que assina a denúncia, disse que a polícia identificou dois homens, Rosenildo Gomes de Castro e Manoel Martins Chaves, o Primo, que contratam os invasores para derrubar as florestas do município a pedido de madeireiros. Primo, foragido, é acusado de também fazer parte de um grupo de extermínio em Tailândia. Pelo menos quinze pessoas já teriam sido mortas por denunciar invasões de terra e crimes ambientais na região.
À espera da saída das tropas de Tailândia, o que deve ainda demorar dois meses, a quadrilha enterra toras de madeira para negociá-las quando os agentes do governo forem embora. A operação Arco de Fogo, que combate a devastação da Floresta Amazônica, já apreendeu 23,3 mil metros cúbicos de madeira e aplicou multas no valor de R$ 23,1 milhões.
(G1, 26/03/2008)