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crise da água
2008-03-27
Duas em cada três pessoas em todo o mundo correm o risco de ficar sem água até 2025.  O alerta é da Tearfund, uma organização não-governamental da Grã-Bretanha.  A ONG publicou relatório semana passada sobre escassez de água nos países em desenvolvimento.

Para debater a questão, a Frente Parlamentar Ambientalista promove a Semana da Água.  De olho na água é o tema deste ano.  A idéia da Frente é promover um grande debate sobre o gerenciamento dos recursos hídricos e ampliar, na sociedade, a conscientização sobre as ameaças de escassez de água, situação que milhões de pessoas já enfrentam em muitos países, inclusive no Brasil.  Comemora-se em 22 de março o Dia Mundial da Água.  A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1993.

A situação é caótica e preocupante na Amazônia.  Toda a bacia hidrográfica do rio Amazonas, que abrange vários países além do Brasil, contém 70% da disponibilidade mundial de água doce e é formada por mais de mil rios.  Mas essa presença exuberante e essencial está ameaçada.  O Brasil detém 20% de toda a água dodce do mundo.

Poluição, assoreamento e o desmatamento são hoje a causa da morte de rios outrora perenes.  É o caso do Xingu (MT), Negro (AM) e Rio Acre (AC).  O primeiro, no entanto, já foi socorrido.  Há três anos, um grupo de pessoas e ONGs lançaram — inclusive com a ajuda da modelo Giselle Bündchen — a campanha Y Ikatu Xingu (água limpa e boa na língua Kamaiurá).  A proposta é recuperar nascentes e matas ciliares (as que margeiam os cursos dágua) do rio Xingu.

A mesma sorte não teve o rio Negro, no Amazonas.  Continua sendo depósito de dejetos e esgotos in natura produzido pelas cidades localizadas às suas margens.  Em 2005, a situação complicou-se ainda mais.  Uma forte estiagem — a maior dos últimos 103 anos — atingiu o leste do Amazonas, quando alguns rios chegaram a baixar seis centímetros por dia.  Milhões de peixes apodreceram e morreram (foto abaixo) nos leitos de afluentes do Amazonas que serviam de fonte de água, alimentos e meios de transporte para comunidades ribeirinhas.

O rio Acre é outro importante rio da Amazônia que morr a cada ano.  Mesmo diante do alerta dos cientistas, o governo local não toma nenhuma medida para evitar sua morte definitiva.  Estudos apontam que, devido à poluição e ao assoreamento, o rio Acre deve acaba em, no máximo, 15 anos.  Diariamente, o rio recebe milhões de metros cúbicos de esgoto in natura produzidos pelos quase 300 mil habitantes de Rio Branco, a capital do Acre.

Abundância e caos
Mesmo rico em água doce, o Brasil — aqui se concentram 20% de toda a água doce do planeta — vive um verdadeiro caos na distribuição de água potável para a população.  Além de distribuir mal, o País não cuida corretamente desse recurso natural não renovável.  A Amazônia e o Pantanal Matogrossense são exemplos.

Comunidades inteiras dessas regiões padecem de problemas de saúde causados pela contaminação, falta de saneamento básico, presença do mercúrio usado nos garimpos e ainda pelo uso indiscriminado de agrotóxicos próximo a áreas de mananciais.  Tudo isso ocorre porque muitos, mesmo diante da necessidade de conter o desperdício, ainda acreditam que a água é um recurso natural ilimitado.  Apenas 59,80% dos domicílios urbanos contam com rede de água tratada.

A abundância de água na Amazônia, muitas vezes imprópria ao consumo humano, se reflete em escassez em outras regiões.  O Nordeste, por exemplo, possui apenas 3% de água doce.  Em Pernambuco, existem apenas 1.320 litros de água por ano por habitante.  A ONU recomenda um mínimo de 2 mil litros.

Há 11 anos, o Brasil criou a Lei nº 9.433/97, a chamada Lei das Águas, para proteger os mananciais brasileiros.  Mas, infelizmente, a norma não é conhecida da maioria dos brasileiros.  A lei nos orienta, por exemplo, que a água é um bem de domínio público e um recurso natural limitado, dotado de valor econômico, e estimula a criação de Comitês de Bacias.  Esses comitês visam zelar pela boa utilização dos cursos d’água.  Existem dois em funcionamento no País — um no rio do Paraíba do Sul, e outro, no rio São Francisco.

O consumo mundial de água cresceu duas vezes mais rápido do que a população mundial no último século - e os países mais pobres devem sofrer com isso, nos próximos anos.  De acordo com o relatório da Tearfund, a maioria das pessoas sem água vão ser forçadas a deixar seus lares, provocando novas ondas de imigração.

Um dos piores efeitos da falta de água será o aumento do preço dos alimentos.  Em 2025, a Tearfund acredita que o volume de água necessário para produzir comida deve aumentar em 50%, devido ao crescimento populacional e à demanda por melhor qualidade de vida.

Como resultado da falta de água, a produção mundial de alimentos ameaça diminuir em 10%.  Em média, 70% da água mundial é usada na agricultura, mas na Ásia essa proporção cresce para mais de 90%.  Num mundo com cada vez menos água disponível, os países mais pobres vão ter que escolher se usam a água para irrigação, ou para uso doméstico e industrial.

“Para o 1,3 bilhão de pessoas que vive com US$ 1 por dia, o aumento do preço dos alimentos resultado da falta de água pode ser fatal”, diz o relatório da Tearfund.

Diversos fatores colaboram com a crise que se avizinha, entre eles o fracasso dos países em desenvolvimento em regular, gerenciar e investir em seus recursos hídricos.  Quando esses problemas se juntam ao crescimento da população, o quadro fica ainda mais grave.

A população da China, por exemplo, deve crescer de 1,2 bilhão hoje para 1,5 bilhão em 2030, enquanto a demanda por água deve crescer 66% no mesmo período.

Outro fator que aumenta a preocupação com a falta de água nos próximos anos é o aquecimento global — alguns cientistas prevêem um aumento na ocorrência de secas e o surgimento de mais desertos.

(24 Horas News, 26/03/2008)

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