Um bloco de gelo de pouco mais de 400 km² da plataforma de Wilkins, na Península Antártida, desintegrou-se no mar, no que os cientistas dizem ser mais uma evidência do aquecimento global. A área é equivalente a quase um quarto da cidade de São Paulo (1.523 km², segundo o IBGE).
Imagens por satélite sugerem que uma parte da plataforma de Wilkins, na península que se projeta em direção à Patagônia, iniciou um processo de desintegração e logo poderá desaparecer. Plataformas são extensões flutuantes do lençol de gelo (com até 4 km de espessura) que cobre a base rochosa da Antártida, segundo o site da British Antarctic Survey (BAS), que monitora a região.
Wilkins, que cobria inicialmente uma área de 16 mil km² (segundo o site da BAS), permaneceu estável pela maior parte do século 20, mas começou a se retrair na década de 90. Houve um desprendimento de blocos de um total de mil km² em 1998, ao longo de alguns meses. Outras plataformas na mesma área do continente já se perderam nos últimos 30 anos, disse a BAS.
David Vaughan, da BAS, disse: "Eu não esperava ver as coisas acontecerem tão depressa assim. A plataforma está presa por um fio - nós vamos ver nos próximos dias ou semanas que destino terá." Ao observarem fotos de satélite, os pesquisadores da BAS enviaram um avião de reconhecimento para registrar imagens mais próximas do que estava ocorrendo.
A desintegração foi sinalizada com a formação de um iceberg de 41 km por 2,5 km verificada em 28 de fevereiro. Boa parte da plataforma Wilkins agora está sendo protegida apenas por uma faixa de gelo entre duas ilhas. Pesquisadores receiam que a ausência da plataforma pode expor geleiras no interior do continente e que são formadas por água fresca. Seu derretimento poderia afetar o nível dos oceanos.
Vaughan fez uma previsão em 1993 de que a porção norte da plataforma de Wilkins desapareceria dentro de 30 anos se o aquecimento da Terra continuasse, mas ele disse que isto está acontecendo mais rápido do que esperava. "Esta não é uma questão de elevação do nível do mar, contudo, é mais uma indicação da mudança do clima na Península Antártida e de como isto está afetando o meio ambiente", disse ele.
Segundo os cientistas, a Península Antártida tem passado por um aquecimento sem precedentes nos últimos 50 anos, de quase 3ºC. Outros pesquisadores acreditam que a plataforma de Wilkins pode resistir por mais tempo, pois o verão na Antártida - período de derretimento de gelo - está chegando ao fim.
Ted Scambos, do Centro Nacional de Informações sobre Neve e Gelo da Universidade de Colorado, nos Estados Unidos, disse: "Este espetáculo incomum acabou por esta estação. Mas em janeiro próximo nós vamos ver se a Wilkins continuará a se desfazer."
(BBC, 26/03/2008)