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desmatamento da amazônia passivos do agronegócio
2008-03-26

O consumo ainda é o principal vilão da floresta amazônica.  A substituição das florestas por pastos, cidades, indústrias e grandes projetos de infra-estrutura agregadas a um consumo inconsciente torna o que poderia ser um grande recurso contra o aquecimento global no maior emissor de CO² na camada de ozônio. Em paradoxo a tantos projetos de desenvolvimento, 45% da população amazônica ainda vive abaixo da linha de pobreza.  Sinal que a região vem se tornando um importante gerador de recursos econômicos para os mercados brasileiro e mundial, mas não para ela mesma.

Para os que acreditam que vivendo longe da região não afetam diretamente a floresta, João Meirelles do Instituto Peabiru rebate: "Na hora em que o garfo bate na boca, você está destruindo a floresta.  De cada três bifes consumidos um vem da Amazônia e quem os consome são tanto os moradores da região (cerca de 10%) como os brasileiros de outras regiões (cerca de 80%)", afirma.

Em pratos limpos
O grande motor da destruição da floresta, para Meirelles, é a carne bovina.  Dados do IBGE apontam que entre 1995 e 2000, por exemplo, praticamente todo o incremento do rebanho nacional ocorreu no Pará, em Mato Grosso e em Rondônia. Em 2007, pela primeira vez a Amazônia Legal passou da marca histórica dos 10 milhões de abates bovinos, com um aumento 46% em relação a 2004, conforme dados do estudo O Reino do Gado, de autoria de Amigos da Terra-Amazônia Brasileira..

Em relação à madeira, anualmente são cerca de 5,0 milhões de m3 só para abastecer o Estado de São Paulo.  Isso representa 1/5 da produção amazônica, 80% da qual tirada da floresta ilegalmente.  Para Mario Menezes, Secretário Executivo da Iniciativa Brasileira para Verificação/Certificação da Atividade Agropecuária, "estamos reproduzindo em uma escala muito maior e muito mais intensa o que fizemos com a Mata Atlântica.  São Paulo responde, a cada ano, por uma área desmatada, na Amazônia, onde caberiam 200 campos de futebol".

Co-responsável
Lisa Gunn, coordenadora da Campanha "Mude o consumo para não mudar o clima" do Idec, defende a co-responsabilidade do consumidor, mas também ressalta que falta informação: "os consumidores são 'cúmplices' do desmatamento, porque falta informação sobre a rastreabilidade dos produtos.  Eles não sabem de onde vêm os produtos e muitas vezes compram algo que veio do desmatamento".

Para Lisa, é preciso mais do que afirmações para que o consumidor pare de desperdiçar.  Apesar de importante gastar menos água, energia e reciclar, isto tudo ainda é muito pouco.  "É preciso mudar o comportamento individual de consumo.  É importante questionar a indústria de alimentos para que os produtos não venham do desmatamento.  Não apenas da Amazônia, o cerrado também é desmatado pela soja."

Para auxiliar o consumidor no processo de decisão existem selos que atestam certas especificidades dos produtos, como sua origem, produção ou qualidade.  Dessa forma consumidores podem monitorar processos produtivos, além de assegurar que sua compra esteja associada a uma produção sustentável.

É o caso do Conselho Brasileiro de Manejo florestal, mais conhecido na sigla em inglês FSC (Forest Stewardship Council), conedido a produtores que realizam manejo de florestas dentro de critérios e princípios nas áreas ambiental, social e de viabilidade econômica.

Marisa Simões, do Grupo Compradores de Produtos Certificados, afirma que "pelo menos o selo vai dar uma leitura do que ele [o consumidor] está evitando em algum momento, seja por meio de um manejo responsável, da participação de uma rede de comé3rcio justo, da não utilização da mão-de-obra escrava.  A ferramenta mais prática para o consumidor, se ele quer contribuir, é reconhecer o selo".

Outro problema enfrentado pelo consumidor é a variedade de selos existentes no mercado e uma falta de conhecimento do público, já que os selos garantem aspectos específicos na produção.  Como a certificação orgânica, que avalia questões socioambientais, com ênfase na produção livre de agrotóxicos e insumos químicos.

Porém, nenhum selo garante a totalidade: os selos orgânicos, por exemplo, não garantem a questão territorial.  "Somente o bom manejo não garante um produto responsável, porque pode estar em território ilegal, pode ser área de indígena" afirma Erinaldo Silva do projeto Balcão de Serviços para Negócios Sustentável da Amigos da Terra - Amazonia Brasileira.

Para o setor agropecuário, se busca uma saída para agrupar tanta informação.  Representantes dos setores econômico e social e da área ambiental estão implementando a Iniciativa Brasileira para Verificação da Atividade Agropecuária, que visa formatar um sistema "guarda-chuva", no qual vão se agrupar selos de certificação já validados e com credibilidade junto aos mercados nacional e internacional.  Com isso, os muitos selos já existentes poderão ser representados por apenas um, facilitando a vida do consumidor interessado em adquirir produtos cuja origem seja sustentável.

De modo geral, no Brasil, segundo Mario Menezes, "a certificação ainda é importante, acima de tudo, como mecanismo de implementação do Estado de Direito, ou seja, aquele estágio do desenvolvimento em que vigora o 'império da Lei'.  Ao termos como critério de verificação, por exemplo, a proibição do emprego de mão-de-obra similar ao trabalho escravo, só se está pedindo o cumprimento da legislação vigente no país".

Por enquanto, àqueles que querem contribuir, ainda terá que fazer um esforço buscando informações e pesquisando.

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