Rajendra Pachauri também defende uma redução da dependência do mundo em relação ao petróleo
O vencedor do prêmio Nobel da Paz Rajendra Pachauri alerta que o Brasil não pode sucumbir às "tentações econômicas" na defesa do meio ambiente e pede que políticas mais fortes de proteção da floresta Amazônica sejam adotadas. Ainda assim, Pachauri, que defende uma redução da dependência do mundo em relação ao petróleo, deixa claro que a expansão do etanol e a proteção da floresta "não são questões incompatíveis".
Nos últimos meses, uma série de ativistas europeus e governos lançaram ataques contra a forma pela qual os combustíveis são produzidos. Os europeus criarão até mesmo um selo ambiental para garantir que o etanol importado não será produzido em regiões de alta biodiversidade.
No domingo, 23, para marcar o dia internacional da meteorologia, Pachauri evitou indicar os biocombustíveis como uma ameaça necessária ao desmatamento. "Quem é que disse que a produção de etanol e a conservação da floresta são coisas incompatíveis , questionou. "Eu não acredito que o sejam", disse, alegando que precisaria estudar mais a questão.
Pachauri não deu exemplos concretos de quais seriam as "tentações" que o Brasil estaria sofrendo. Mas os assessores da Organização Meteorológica Mundial explicaram mais tarde que o temor é de que o Brasil, em pleno crescimento econômico, privilegie projetos de infra-estrutura e produção aos planos de conservação.
Nos anos 80, a crise da dívida externa no Brasil fez com que houvesse uma expansão da fronteira agrícola na Amazônia para o pasto e exportação de carne, alertou Pachauri, que preside o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
O prêmio Nobel ainda apontou que a responsabilidade de preservar a Amazônia não deveria ser deixada somente ao Brasil. "Trata-se de uma responsabilidade coletiva", afirmou. Ele afirmou que ainda espera que a comunidade internacional chegue a um acordo internacional para impedir o desmatamento em várias partes do mundo. "Existem países interessados em ajudar, como a Noruega que doou US$ 500 milhões aos esforços nesse sentido", afirmou.
(Jamil Chade, O Estado de São Paulo, 25/03/2008)