No caderno especial “O Brasil que mais vai sofrer com o Aquecimento”, vencedor do Prêmio Reportagem Social Latino-Americano em Jornais e Revistas, resultado divulgado segunda-feira (24/03), o Diário de Pernambuco apresenta um retrato dramático dessa região do semi-árido, onde uma população miserável sofre com o abandono face a seca, a fome, falta de educação, saúde e abandono. Como se não fosse suficiente, suas perspectivas são ainda piores com as anunciadas mudanças climáticas.
“O Brasil mais vulnerável ao aquecimento global tem 1,9 milhão de rostos”, diz a repórter Sílvia Bessa, que realizou a cobertura com a fotógrafa Teresa Maia. “Milhares de pobres, outros tantos de miseráveis. Que vivem como bichos. Pior que os ursos polares, animais que se tornaram a face mais reproduzida dos efeitos da mudança climática. O Brasil mais suscetível ao aquecimento está no Nordeste. É uma área de 193.000 Km2, no semi árido”, aponta o texto.
É um território localizado nos limites de três estados, no sudeste do Piauí, oeste de Pernambuco e Norte da Bahia, onde se encontram os piores indicadores sócio-econômicos do país. A EcoAgência obteve do Diário de Pernambuco autorização para publicar o link com a íntegra da reportagem (clique aqui). Uma das matérias refere-se ao mapa (acima) que situa essa região, o primeiro a identificar a área do Brasil em que a mudança climática terá mais impacto sobre as pessoas.
Foi elaborado pelo cientista José Marengo, um dos principais estudiosos do aquecimento global e mudanças climáticas do Brasil, com pós-doutorado em meteorologia na Nasa Columbia University e na Flórida State University (EUA). Atualmente coordena pesquisas sobre cenários no Centro de Previsão do Tempo e Estudos do Instituto nacional de Pesquisas Espaciais (Cptec/Inpe). Marengo é ainda co-autor de estudos sobre América Latina do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC).
Ele explicou à repórter as razões para a definição dessa área em laranja escuro no mapa como a área crítica do aquecimento global no país: “A população é a mais afetada pela seca; a maioria das projeções de clima mostra que nesta mesma área a vegetação pode virar de caatinga para vegetação de tipo cactácea e os indicadores sociais são muito baixos, o que dificulta a adaptação das pessoas à alteração climática”.
População vulnerável, no caso, significa aquela formada pelos pobres e miseráveis com pouca ou nenhuma condição de enfrentar os desastres ambientais, explica Sílvia Bessa. “Em época de seca, por exemplo, a única alternativa que resta para parte da população é a emigração – tornando-se ‘flagelados’, no vocabulário tradicional, ou ‘refugiados ambientais’, no vocabulário da Era do Aquecimento”, completa.
(EcoAgência, 25/03/2008)