Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) atribuem o alto número de mortes em crianças na epidemia de dengue no Rio à falta de orientação específica para essa faixa etária no protocolo distribuído aos médicos da rede pública pelo Ministério da Saúde. A mestre em Saúde da Mulher e da Criança da Escola Nacional de Saúde Pública, Elyne Engstron, explicou que os valores de referência de plaqueta e hematócritos, medidos no exame de sangue e que podem indicar a ocorrência de dengue hemorrágico, são diferentes em crianças e adultos.
Os sinais de alarme também podem ser diferentes dos sintomas da dengue em adultos. "As crianças desidratam muito mais rápido e costumam se queixar de dores de barriga ou na garganta, que já são indícios de que a doença está se agravando", exemplificou Engstron. "Estamos tendo que treinar as equipes e estipular essas orientação no meio da epidemia", disse ela, acrescentando que o diagnóstico também é mais difícil do que nos adultos, já que os sintomas são inespecíficos e típicos de outras enfermidades infantis.
A infectologista da Fiocruz Patrícia Brasil defendeu um estudo mais aprofundado das mortes já confirmadas por dengue. No início da epidemia, segundo ela, os médicos estavam subestimando a doença e mandando o paciente de volta para casa com outros diagnósticos. Agora, a situação se inverteu. "Tem criança morrendo de insuficiência hepática causada por excesso de paracetamol (único antitérmico que pode ser utilizado em caso de suspeita de dengue), de meningite ou infecção generalizada e dizem que é dengue", criticou.
Segundo ela, a dengue é uma doença benigna e que deveria matar em menos de 1% dos casos, se fosse tratada na hora e de modo adequado. Médicos e pais devem estar atentos para o momento em que a febre abaixa ou vai embora, o que acontece entre 3 e 5 dias após os primeiros sintomas. Agitação, tonteira ou dores abdominais podem ser sinais de que a doença está evoluindo para o tipo hemorrágico. O exame de sangue, com a contagem de plaqueta e hematócritos, confirma ou não o agravamento.
(G1, 25/03/2008)