Especialistas da ONU disseram na terça-feira (25) que a possibilidade de contar com boas previsões climáticas e alertas prévios diante de eventuais desastres naturais depende de que todos os países, não só os mais ricos, gerem e troquem informações meteorológica de qualidade com o resto do mundo.
O presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), Rajendra Pachauri, afirmou que o único modo de garantir previsões adequadas e com antecedência suficiente é contar com dados provenientes de diferentes partes do planeta "em tempo real". Em entrevista coletiva oferecida por ocasião do Dia Mundial da Meteorologia, celebrado no domingo, o cientista ressaltou que as previsões são cruciais para a tomada de decisões em áreas vitais.
Para ilustrar sua afirmação, Pachauri disse que os estudos realizados pelo IPCC - vencedor do Prêmio Nobel da Paz 2007 - mostram que a produção agrícola diminuirá até 50% em algumas regiões da África até 2020, e que entre 75 e 250 milhões de pessoas nesse mesmo continente terão sérias dificuldades de acesso à água.
Segundo o presidente do Painel, em uma situação como esta é vital saber quais áreas serão afetadas por tais problemas e em que magnitude, para que as melhores decisões sejam tomadas.
"É fundamental entender a importância do lema deste Dia Mundial da Meteorologia - 'Observar nosso planeta para um futuro melhor' - já que, se o monitoramento não melhorar, não haverá previsões adequadas e também não será possível entender de fato as implicações da mudança climática".
O secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Michel Jarraud, sustentou que, apesar dos "enormes progressos tecnológicos nos sistemas de observação, mais esforços são necessários" para que os países com menos recursos possam usufruir de tais avanços.
Jarraud enfatizou que as informações meteorológicas influem em praticamente todas as atividades humanas e setores econômicos. Segundo dados da OMM, 90% dos desastres naturais nos últimos 25 anos foram relacionados a chuvas. O presidente da entidade disse que embora "seja impossível impedir que ocorram, é possível fazer melhores previsões e emitir alertas prévios baseados em observações apropriadas".
Jarraud ressaltou que já existe a tecnologia para tornar isso possível, mas "é necessário melhorar sua transferência" aos países que não contam com ela e capacitar seus especialistas para utilizá-la. O chefe da OMM reconheceu que o monitoramento meteorológico é melhor nos países industrializados, motivo pelo qual é preciso fazer um esforço maior em favor daqueles Estados com menos recursos, particularmente os da África e da Ásia.
Jarraud explicou que as redes de observação são mais densas sobre os continentes do que sobre os oceanos, onde ilhas e navios são usados como bases. O presidente da organização explicou que tal prática se mostra insuficiente, de modo que os dados meteorológicos sobre os oceanos são complementados com informações de satélites.
Ao se referir às possíveis reservas de alguns países para compartilharem informações, Jarraud afirmou que existe uma "forte tradição de troca de dados que vai além de qualquer divisão política". "Nenhum país pode fazer uma previsão do tempo se não contar com observações de outros países. Ninguém pode ser auto-suficiente", concluiu o presidente da OMM.
(Yahoo Brasil, Ambiente Brasil, 26/03/2008)