As ilhas são territórios muito específicos e com características próprias. O programa MIT-Portugal pretende estudar a utilização de energias renováveis nas ilhas dos Açores e da Madeira, com o objectivo de desenvolver o conceito de “ilha sustentável”. Como diz o nome, uma “ilha sustentável” consegue ser autónoma em termos energéticos, investindo em energias que não se esgotam.
“Pretendemos desenvolver modelos de sistemas energéticos que permitam articular estratégias”, disse ao PÚBLICO, o director nacional do MIT-Portugal, Paulo Ferrão. “Vamos pensar em soluções globais, avalia-las e propor soluções”, explica. Se os resultados forem positivos, empresas como a "Galp" e a "EDP", entre outras, já mostraram vontade de implementar os sistemas energéticos desenvolvidos durante o estudo.
Para que a investigação seja possível, vão ser assinados acordos entre universidades portuguesas, as agências regionais de Energia e Ambiente das regiões autónomas dos Açores e da Madeira e o MIT-Portugal. Os protocolos serão celebrados amanhã, no âmbito da Conferência Europeia do "Massachussets Institute of Techonology" (MIT), que acontece pela primeira vez em Portugal.
Ilha de São Miguel pode ser “sustentável”
As ilhas portuguesas serão usadas como um exemplo, uma base de estudo para que os resultados possam ser aplicados em termos internacionais. O factor económico tem um espaço de relevo na investigação. “Queremos desenvolver modelos a custos razoáveis”, afirmou.
Paulo Ferrão explicou que “cada caso é um caso” e que não acredita que todas as ínsulas possam vir a ser sustentáveis. A Madeira, por exemplo, é muito grande e dificilmente conseguiria viver apenas de energias renováveis. Mas, um dos objectivos da investigação é também ver se os dois tipos de energia (renovável e não renovável) podem conviver juntas, “puxando mais para as renováveis”.
A ilha de São Miguel, no arquipélago dos Açores, poderá ser totalmente sustentável. São Miguel já produz energia geotérmica (obtida do calor proveniente da terra) e “podia aumentar a quantidade de energia produzida”, mas, “durante a noite não haveria consumo e não teria como escoar a energia”, sublinhou o director nacional do MIT-Portugal.
A investigação pretende também resolver estes problemas. No caso da ilha de São Miguel, Paulo Ferrão já apontou duas soluções para que a energia geotérmica fosse escoada: automóveis eléctricos que estivessem ligados à noite para sair durante o dia ou casas de “micro geração”, que produzem energia.
As ilhas mais pequenas também teriam mais facilidades em serem autónomas em termos energéticos. “A ilha das Flores poderia ser mantida a energia eólica”, exemplifica Paulo Ferrão. Por estarem rodeadas de mar, as ilhas têm mais potencial em explorar as energias eólicas e das ondas.
Islândia, um exemplo de sucesso
Conseguir que uma ilha seja completamente sustentável não é impossível. Um exemplo concreto é a Islândia. “A Islândia é cem por cento renovável”, diz Paulo Ferrão.
“Há cinquenta anos era o país mais pobre da Europa”. Estava dependente do carvão, como principal fonte energética. O responsável nacional do MIT-Portugal contou que foi através da produção geotérmica e hidroeléctrica que este país insular conseguiu ser “sustentável”, além de ter investido o dinheiro, que poupou com as renováveis, em outras indústrias que trouxeram a prosperidade económica.
Para o responsável, o crescimento do investimento em energias renováveis é certo e no caso das ilhas só traz benefícios, uma vez que estes territórios pagam, por vezes, mais pelo fornecimento energético. Paulo Ferrão considera que Portugal é “um belo exemplo” na implementação de energias amigas do ambiente.
(Por Alice Barcellos, Ultima Hora, 25/03/2008)