O veado Bambi, o peixinho Nemo e o urso Balú são mais do que personagens fictícios para agradar crianças e adultos - são, na verdade, pioneiros da conscientização para a preservação do meio ambiente, de acordo com um acadêmico da Universidade de Cambridge, na Grã-Bretanha. David Whitley diz em seu livro The Idea Of Nature In Disney Animation (A Idéia de Natureza nos Desenhos Disney) que as estórias vividas por estes personagens na tela têm ajudado sucessivas gerações de crianças a desenvolver "uma consciência crítica de questões ambientais" desde Branca de Neve, em 1937.
Eles são "heróis não reconhecidos do lobby verde" e, longe de oferecerem apenas escapismo, os personagens trazem mensagens importantes sobre nosso relacionamento com a natureza, afirma Whitley. "Os filmes da Disney são criticados com freqüência por não terem autenticidade e se curvarem ao gosto popular, em vez de desenvolverem a animação de uma forma que provoque maior reflexão", diz Whitley.
"Se você consegue aceitar seu sentimentalismo, é possível ver que estes filmes estão dando às jovens audiências uma arena cultural dentro da qual questões ambientais sérias podem ser encenadas e exploradas", conclui o acadêmico. A preservação é tão central em Bambi, por exemplo, que o filme é tido como o inspirador de muitos ativistas pelo meio ambiente, em tenra idade, na década de 60, de acordo com o acadêmico. Segundo ele, Branca de Neve e Cinderela são, para as crianças, modelos de proteção à fauna e atenção com a natureza que as cerca.
Acompanhando os tempos
Mas o tom dos filmes mudou sutilmente ao longo das décadas, segundo o autor. No período de 1937 a 1967, sob a direção do próprio Walt Disney, as primeiras produções de Branca de Neve, Cinderela, Bambi e A Bela Adormecida, têm na natureza um refúgio idílico, vulnerável à incursão de uma civilização decadente e ameaçadora.
Animais amistosos tornam-se aliados de heróis e heroínas. O mundo selvagem é visto como um lugar de renovação, onde os personagens centrais passam por um processo de auto-descoberta. Whitley diz que os jovens espectadores da época eram encorajados a participar da natureza e a protegê-la, como seus heróis nos filmes.
Produções mais recentes, lançadas entre 1984 e 2005 - depois que Michael Eisner passou a presidir os Estúdios Disney - têm uma abordagem um pouco diferente, sugerindo que a humanidade e a natureza podem coexistir se as pessoas respeitarem a fauna e perceberem seu lugar na ordem natural. Longas-metragens como Procurando Nemo, de 2003, são mais complexos que os desenhos mais antigos, acompanhando o sentimento predominante em sua época.
O filme sobre um peixe que procura seu filhote perdido é qualificado por Whitley como "uma fábula para o nosso tempo", pois dramatiza as atitudes contraditórias e os sentimentos despertados em nossa interação com a natureza. Segundo o autor, em Mogli, o Menino Lobo (1967), O Rei Leão (1994) e Procurando Nemo, o ambiente é mais exótico e os seres humanos tendem a não restaurar a ordem do mundo natural, mas a serem, eles mesmos, uma parte desse mundo.
(BBC, Ultimo Segundo, 25/03/2008)