A poluição já atinge 70% das águas superficiais do Brasil. É o que mostra o relatório “Estado real das águas do Brasil”, da organização não-governamental (ONG) Defensoria da Água. O estudo traz dados do período de 2004 a 2007, identificando mais de 20 mil áreas de contaminação dos recursos hídricos. Cinco milhões de pessoas seriam afetadas diretamente pela poluição, e outras 15 mil de maneira indireta.
O levantamento foi elaborado a partir de mais de 454 mil denúncias e notificações encaminhadas à ONG durante esses quatro anos. De acordo com os dados, os casos de poluição aumentaram 280% desde 2004, quando foi divulgada a primeira edição do relatório. E o estudo não traz boas perspectivas, como relata o secretário-geral da Defensoria da Água, Leonardo Morelli.
“Isso é o que nós temos hoje, 70% está inviável. Nos próximos quatro anos, se continuar dessa maneira, nós teremos 90% das reservas superficiais de água sem condições das pessoas terem contato humano”, alerta.
O relatório aponta que a poluição vem sendo causada, principalmente, pelo descarte inadequado de resíduos industriais e pelo agronegócio. No ranking das dez empresas mais poluidoras, o primeiro lugar ficou com a Petrobras, seguida pela Shell. Na lista também aparecem a Gerdau, Votorantim, Cargill e Aracruz Celulose.
No Rio Grande do Sul, os maiores impactos são causados pela falta de gestão adequada sobre a água. São citados os casos de despejo irregular de detritos industriais pela Gerdau, em Sapucaia do Sul, em 2001, e a aplicação de agrotóxicos a partir de aviões, principalmente nas lavouras de soja.
Além das denúncias de contaminações, Morelli afirma que um grande número de reclamações se refere à dificuldade da população em pagar as tarifas de água. Para ele, este é um dos principais reflexos da privatização dos serviços de água e saneamento. “Conforme vai passando o tempo, as empresas de água e esgoto vão deixando de ter aquela postura de empresa pública e passam a ter uma postura muito mais de empresa privada. E aí elas acabam cortando a água das pessoas”, explica.
Para minimizar esses efeitos, o relatório sugere a implementação de políticas públicas para os recursos hídricos, integradas com a proteção da biodiversidade e da saúde. Se não forem tomadas providências, Morelli adverte que a saúde da população deve ser a mais prejudicada.
(Por Patrícia Benvenuti, Agência Chasque, 25/03/2008)