O Japão acusa o Protocolo de Quioto de beneficar a União Européia e defende que o ano-base para se limitar as emissões de gases causadores do efeito estufa deixe de ser 1990 e passe para 2005 no próximo acordo do clima, que deverá iniciar a partir de 2012. Pelo tratado atualmente em vigor, as nações desenvolvidas devem reduzir as suas emissões em 5,2% em relação aos níveis de 1990 - entre 2008 e 2012.
O vice-ministro da Economia, Comércio e Indústria do Japão, Takao Kitabata, afirma que 2005 seria uma data mais justa para o pacto que irá substituir Quioto. Ele fez a observação justamente na semana que antecede a última rodada de negociações iniciada em Bancoc para definir o sucessor do atual protocolo, que, acredita, foi influenciado pela posição européia. "Comparações com os níveis de 1990 são extremamente injustas. Esta é a posição do governo japonês", afirma Kitabata. "Acreditamos que determinar 2005 como ano-base seria mais satisfatório", reiterou em uma conferência.
O primeiro-ministro Yasuo Fukuda já havia dito no Fórum Econômico Mundial, em Davos, em janeiro, que desejava rever o ano-base para o corte de emissões, mas não apontou uma preferência para a nova data. Na época de 1997, quando o acordo era negociado, "Japão engoliu condições desvantajosas por razões diplomáticas", afirma o vice-ministro.
Vantagem européia
Kitabata adverte que em 1990, partes consideráveis do que agora é a União Européia formavam o bloco soviético. Ele explica isso torna o cumprimento de Quioto muito mais fácil para as nações da União Européia porque os países do leste tiveram as suas emissões diminuídas drasticamente na década de 90, com a quebra da União Soviética.
O vice-ministro também lembra que o ano de 1990 é um marco anterior à privatização do setor de carvão da Grã Bretanha – o que fez a segunda maior economia da Europa liderar a mudança rápida para o gás natural. "O Japão perseguiu a eficiência energética durante as crises do petróleo, bem antes da queda do muro de Berlim", afirma, destacando que Tóquio tem menos espaço para fazer cortes mais profundos.
Kitabata reafirma que, com o ano-base de 1990, será difícil conseguir apoio da China, Índia e outras nações emergentes, porque isso significaria um peso enorme para eles. Ele sugere que agora haja um divisão mais eqüitativa do peso no próximo pacto. A União Européia, no entanto,defende a continuidade de 1990 como ano-base. O bloco determinou uma meta obrigatória própria para o corte de emissões de pelo menos 20% até 2020, em comparação com os níveis de 1990.
(Por Sabrina Domingos, Carbono Brasil, Envolverde, 25/03/2008)
* Com agências internacionais